- A senhora D. Luísa está em casa?
Voltou-se. Nos últimos degraus da escada estava um sujeito, que lhe pareceu estrangeirado. Era trigueiro, alto, tinha um bigode pequeno levantado, um ramo na sobrecasaca azul, e o verniz dos seus sapatos resplandecia.
- A senhora vai sair - disse ela olhando-o muito. - Faz favor de dizer quem é?
O indivíduo sorriu.
- Diga-lhe que é um sujeito para um negócio. Um negócio de minas.
Luísa, diante do toucador, já de chapéu, metia numa casa do corpete dois botões de rosa-chá.
- Um negócio! - disse muito surpreendida. - Deve ser algum recado para o Sr. Jorge, decerto! Mande entrar. Que espécie de homem é?
- Um janota!
Luísa desceu o véu branco, calçou devagar as luvas de peau de suède claras, deu duas pancadinhas fofas ao espelho na gravata de renda, e abriu a porta da sala. Mas quase recuou; fez "ah!" toda escarlate. Tinha-o reconhecido logo. Era o primo Basílio.
Houve um shake-hands demorado, um pouco trémulo. Estavam ambos calados: - ela com todo o sangue no rosto, um sorriso vago; ele fitando-a muito, com um olhar admirado. Mas as palavras, as perguntas vieram logo, muito precipitadamente: - Quando tinha ele chegado? Se sabia que ele estava em Lisboa? Como soubera a morada dela?
Chegara na véspera no paquete de Bordéus. Perguntara no ministério; disseram4he que Jorge estava no Alentejo, deram-lhe a adresse...
- Como tu estás mudada, Santo Deus!
- Velha.
- Bonita!
- Ora!
E ele, que tinha feito? Demorava-se?
Foi abrir uma janela, dar uma luz larga, mais clara. Sentaram-se. Ele no sofá muito languidamente; ela ao pé, pousada de leve à beira de uma poltrona, toda nervosa.
Tinha deixado o "degredo" - disse ele. - Viera respirar um pouco à velha Europa.