- Tanto lhe recomendei, Juliana! - disse Luísa. - Bem, vá. Veja como se arranja! Os coletes hão de ficar à noite na mala!
E apenas ela saiu:
- Estou a tomar ódio a esta criatura, Jorge!
Há dois meses que a tinha em casa e não se pudera acostumar à sua fealdade, aos seus trejeitos, à maneira aflautada de dizer chapiéu, tisoiras, de arrastar um pouco os rr, ao ruído dos seus tacões que tinham laminazinhas de metal; ao domingo, a cuia, o pretensioso do pé, as luvas de pelica preta arrepiavam-lhe os nervos.
- Que antipática!
Jorge ria:
- Coitada, é uma pobre de Cristo! - E depois que engomadeira admirável! No ministério examinavam com espanto os seus peitilhos! - O Julião diz bem: eu não ando engomado, ando esmaltado! Não é simpática, não, mas é asseada, é apropositada...
E levantando-se, com as mãos nos bolsos das suas largas calças de flanela:
- E, enfim, minha filha, a maneira como ela se portou na doença da tia Virgínia... Foi um anjo para ela! - Repetiu com solenidade: - De dia, de noite, foi um anjo para ela! Estamos4he em dívida, minha filha! - E começou a enrolar um cigarro, com a fisionomia muito séria.
Luísa, calada, fazia saltar com a pontinha da chinela a orla do roupão; e examinando fixamente as unhas, a testa um pouco franzida, pôs-se a dizer:
Mas enfim, se eu embirro com ela, não me importa, posso bem mandá-la embora.
Jorge parou, e raspando um fósforo na sola do sapato:
- Se eu consentir, minha rica... É que é uma questão de gratidão, para mim!
Ficaram calados. O cuco cantou meio-dia.
- Bem, vou à vida - disse Jorge. Chegou-se ao pé dela, tomou-lhe a cabeça entre as mãos.
- Viborazinha! - murmurou, fitando-a muito meigamente.
Ela riu. Ergueu para ele os seus magníficos olhos castanhos, luminosos e meigos.