Queria dizer que a Providência deveria pegar, ou largar.
À medida que se aproximava -do fim, as frases tornavam-se entrecortadas, curtas e incertas, e o seu corpo parecia tenso, parecia fazer um esforço para detectar o mais ligeiro sinal, ou murmúrio de vida, nos espaços à sua volta. O cabelo tornara-se gradualmente branco enquanto falava, e agora levantava a cabeça bem alto para os céus, como um profeta de outrora - magnificamente louco.
Então, enquanto John olhava tonto e fascinado, pareceu-lhe que em qualquer sítio à sua volta corria um fenómeno curioso. Era como se o céu tivesse escurecido por um instante, como se tivesse havido um súbito murmúrio num golpe de vento, um som de trombetas distantes, um sussurro, como o roçagar de um grande manto de seda; por instantes, toda a natureza à volta partilhava desta escuridão; o canto dos pássaros cessou, as árvores ficaram silenciosas e muito para lá da montanha havia o ribombar de um trovão sinistro, ameaçador.
E foi tudo. O vento morreu na relva alta do vale.
A madrugada e o dia retomaram o seu lugar, e o sol já nascido enviava ondas quentes de névoa amarela que tornavam o caminho luminoso à sua frente. As folhas riam ao sol, e a sua gargalhada agitava as árvores até cada ramo ser como uma escola de raparigas no país das fadas. Deus recusara-se a aceitar o suborno.
Por mais uns instantes John observou o triunfo do dia. Então, ao voltar-se, viu uma mancha castanha lá em baixo junto do lago, depois outra, e depois outra, como a dança de anjos dourados descendo das nuvens. Os aviões tinham aterrado.
John escorregou da pedra e correu pelo flanco da montanha para o maciço de árvores onde as duas raparigas já estavam acocoradas e à sua espera. Kismine pôs-se em pé de um salto, com as jóias a chocalharem nos bolsos e uma pergunta nos lábios entreabertos mas o instinto de John disse-lhe que não havia tempo para palavras.