A Década Perdida - Cap. 3: O MENINO RICO Pág. 112 / 182

Seja como for, apaixonaram-se - e nos termos dela. Nunca mais ele participou nas reuniões de fim de tarde no Bar De Soto, e sempre que eram vistos juntos dedicavam-se a longos e sérios diálogos que se devem ter prolongado por várias semanas. Muito mais tarde ele disse-me que não se tratava de nada em especial e antes eram constituídos, de um e de outro lado, por afirmações imaturas e mesmo um tanto desprovidas de sentido - o conteúdo emocional que gradualmente os foi invadindo não provinha das palavras mas da sua enorme seriedade. Era uma espécie de hipnose. Por vezes era interrompida, dando lugar ao humor efeminado a que chamamos gracejo; quando estavam sozinhos, era retomado, solene, grave e ambicioso, de maneira a dar a cada um uma sensação de unidade de sentimentos e de pensamento. Acabaram por levar a mal qualquer interrupção e se tornar insensíveis à vida e até ao cinismo moderado dos seus contemporâneos. Só se sentiam felizes quando o diálogo se desenrolava, e a sua seriedade os envolvia como o revérbero âmbar de uma fogueira. Para o fim surgiu uma interrupção que não levaram a mal - começou a ser interrompido pela paixão.

Estranhamente, Anson estava tão absorvido como ela no diálogo, e por ele afectado na mesma medida e, no entanto, estava ao mesmo tempo consciente de que, pelo seu lado, muita coisa era fingida, e pelo lado dela muita coisa era simplesmente ingénua. Ao princípio ele desprezava também a simplicidade emocional dela, mas com o amor que ele lhe dava a natureza dela aprofundou-se e floriu, e ele já não podia continuar a desprezá-la. Sentia que, se pudesse entrar na vida calorosa e segura de Paula, seria feliz. A longa preparação do diálogo anulou qualquer constrangimento, e ele ensinou-lhe muita coisa do que aprendera com mulheres mais aventureiras e ela reagiu com uma intensidade extasiada e inocente.





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