Tinha encontrado Dolly aqui e ali e de cada vez com uma sensação de piedade pelo fracasso da sua luta, e de vergonha por saber tanto a respeito dela que não tinha o direito de saber. Era o que geralmente se chama «uma coisinha bonita», mas existia nela um certo atrevimento que me fascinava. A sua dedicação à deusa da prodigalidade teria sido menos óbvia se ela fosse menos fogosa; quase de certeza que se iria sacrificar em vão, mas fiquei satisfeito quando soube que o sacrifício não seria consumado à minha vista.
Anson ia deixar a carta de despedida em casa dela na manhã seguinte. Era uma das poucas casas ainda abertas na Quinta Avenida e ele sabia que os Kragers, por informações erradas de Dolly, tinham antecipado uma viagem ao estrangeiro para proporcionarem à filha a sua oportunidade. Quando ele saiu da porta do Yale Club com destino à Avenida Madison o carteiro passou por ele e ele voltou para trás. A primeira carta que os seus olhos viram tinha a letra de Dolly.
Já sabia o que ela diria: um monólogo solitário e trágico, cheio de censuras que ele já conhecia, de recordações invocadas, de «quem sabe se(s)», todas as velhas intimidades que ele trocara com Paula Legendre no que parecia ser uma outra era. Depois de pegar nalgumas contas, pô-la ao de cimo e abriu-a. Para sua surpresa era uma nota curta e um tanto formal que dizia que Dolly não poderia ir com ele para o' campo passar o fim de semana, porque Perry Hull, de Chicago, chegara inesperadamente. Acrescentava que a culpa era dele «...se eu sentisse que me amas tanto como eu te amo iria contigo para qualquer sítio em qualquer altura, mas o Perry é tão amoroso, e quer tanto que eu case com ele…»
Anson sorriu com desprezo; já tinha experiência destas epístolas-armadilhas.
