Além disso, sabia como Dolly elaborara este plano, mandara provavelmente chamar o fiel Perry e calculara a altura da sua chegada; elaborara mesmo aquela nota, de maneira a fazer-lhe ciúmes sem o afastar. Como a maioria dos compromissos tácitos, não tinha força nem vitalidade, mas apenas um desespero receoso.
De repente ficou irritado. Sentou-se no vestíbulo e leu-a de novo. Depois foi ao telefone, chamou Dolly e disse-lhe na sua voz clara e convincente que iria buscá-la às cinco horas, conforme tinham planeado. Não esperando a pretensa incerteza do seu «talvez possa estar contigo durante uma hora», pendurou o auscultador e foi para o escritório. No caminho rasgou a sua própria carta em pedaços e deitou-a para a rua.
Não tinha ciúmes - ela nada significava para ele - mas perante o seu patético estratagema tudo o que nele havia de teimosia e de egoísmo veio à superfície. Era uma presunção de uma pessoa mentalmente inferior, e não podia passar em falso. Se ela queria saber a quem pertencia, ia ver.
Estava à porta da rua às cinco e um quarto. Dolly estava vestida para sair e ele escutou em silêncio a frase «só posso estar contigo uma hora» que começara ao telefone.
- Põe o chapéu, Dolly. - Disse ele. - Vamos dar um passeio.
Vaguearam por Madison Avenue até à Quinta Avenida, enquanto a camisa de Anson lhe humedecia o corpo imponente por causa do enorme calor. Falou pouco, ralhando com ela, não lhe falando de amor mas, antes de terem andado seis quarteirões, ela Já lhe pertencia novamente, pedia desculpa pela nota, oferecia como reparação não voltar a ver Perry, oferecia fosse o que fosse. Parecia-lhe que ele viera porque começava a amá-la.
- Estou com calor - disse ele quando chegaram à Rua 71. - Este fato é de Inverno.