Depois, cego por súbitas lágrimas, desceu desajeitadamente as escadas do Biltmore.
III
Cerca das nove horas dessa mesma noite dois homens saíram de um restaurante barato da Sexta A venida. Eram feios, mal alimentados, desprovidos de tudo excepto da mais baixa forma de inteligência, e sem mesmo aquela exuberância animal que, só por si, dá colorido à vida. Estavam cheios de piolhos, tinham frio e fome numa cidade suja de uma terra estranha. Eram pobres e desamparados; empurrados como escolhos à deriva desde que nasceram, continuariam a ser empurrados como escolhos à deriva até morrerem. Usavam o uniforme do Exército dos Estados Unidos e tinham nos ombros insígnias de uma divisão especial de Nova Jersey, chegada três dias antes.
O mais alto dos dois chamava-se Carrol Key, nome que sugeria que nas suas veias, embora muito diluído por gerações de degradação, corria sangue com alguma potencialidade. Mas poder-se-ia olhar longamente para a cara comprida e sem queixo, os olhos tristes e agudos, as maçãs do rosto proeminentes, sem se encontrar um indício quer de valor ancestral, quer de mérito inato.
O companheiro era escuro e com pernas arqueadas, tinha olhos de rato e um nariz muito aquilino. O seu ar de desafio era, obviamente, fingido - uma arma de protecção copiada desse mundo de rosnadelas e dentadas, de fanfarronadas e de ameaças físicas em que sempre tinha vivido. Chamava-se Gus Rose.
Saindo do café deambularam pela Sexta Avenida, mascando palitos com grande deleite e perfeita indiferença.
- Para onde vamos? - perguntou Rose num tom revelado r de que não ficaria surpreendido se Key sugerisse as ilhas dos mares do sul.
- Que é que achas se tentássemos arranjar bebidas? - Ainda não existia a lei seca.