- Nunca estive noivo. Tentei estar, mas nunca amei ninguém senão a ti, Paula.
- Ah - disse ela. E um momento depois: - este bebé é o primeiro que realmente quis. É que agora estou apaixonada, finalmente.
Ele não respondeu, chocado com a traição das recordações dela. Ela deve ter notado que o «finalmente» o magoara, porque continuou:
- Estive enfeitiçada por ti, Anson; podias fazer de mim o que quisesses. Mas não teríamos sido felizes. Não sou suficientemente inteligente para ti, não gosto de complicar as coisas como tu. - Fez uma pausa. - Nunca vais assentar - disse ela.
A frase foi para ele um golpe pelas costas; era uma acusação que, entre todas as acusações, ele nunca merecera.
- Podia assentar se as mulheres fossem diferentes - disse. - Se eu não as compreendesse tanto, se as mulheres não nos estragassem para outras mulheres, se tivessem um pouco de orgulho. Se eu pudesse ir dormir durante um bocado e acordar numa casa que fosse realmente minha... olha, é para isso que eu sou feito, Paula, é isso que as mulheres têm visto em mim e do que gostam em mim. Mas eu já não posso suportar os preliminares.
Hagerty entrou um pouco antes das onze horas; depois de um whisky, Paula levantou-se e anunciou que se ia deitar. Pôs-se ao lado do marido.
- Onde foste, querido? - perguntou.
- Tomei um copo com o Ed Saunders.
- Estava preocupada. Pensei que se calhar tinhas fugido.
Encostou a cabeça ao casaco dele.
- É um amor, não é, Anson? - perguntou.
- Absolutamente - disse Anson.
Levantou o rosto para o marido.
- Bem, estou pronta - disse. Voltou-se para Anson: - Queres ver o espectáculo de ginástica da nossa família?
- Quero - disse ele numa voz interessada.
- Está bem. Cá vamos!
Hagerty levantou-a nos braços sem dificuldade.