Nessa época eu andava muito com ele, porque montávamos juntos mas, pela primeira vez durante a nossa amizade, ele não me disse uma palavra do que sentia, nem vi nele o mínimo sinal de emoção. A sua principal preocupação era com o facto de ter trinta anos; desviava a conversa para um ponto onde pudesse fazer-nos lembrar disso e depois ficava silencioso, como se partisse do princípio de que a afirmação iniciaria uma cadeia de pensamentos que se bastava a si própria. Tal como os seus sócios, eu estava espantado com a mudança dele e fiquei satisfeito quando o
Paris partiu para o espaço aquático entre os mundos, arrancando-o ao seu principado.
- Que tal uma bebida? - sugeriu ele.
Entrámos no bar com aquele sentimento provocador que caracteriza o dia da partida e pedimos quatro Martinis, Depois de um «cocktail» operou-se nele uma mudança; de repente estendeu o braço e bateu-me no joelho, como o primeiro sinal de jovialidade que lhe vi durante meses.
- Viste a rapariga de gorro vermelho? - perguntou. - Aquela corada que tinha lá em baixo dois cães-polícias a despedirem-se.
- É bonita - concordei.
- Perguntei no escritório do comissário de bordo e descobri que vai sozinha. Daqui a pouco desço para falar com o chefe de mesa. Esta noite vamos jantar com ela.
Daí a pouco deixou-me e dentro de uma hora passeava-se com ela pelo convés, falando-lhe na sua voz forte e clara. O gorro vermelho era uma mancha de cor alegre contra o mar cinzento-aço, e de vez em quando ela olhava para cima com um movimento rápido de cabeça e sorria divertida, interessada e na expectativa. Ao jantar bebemos champanhe e estivemos muito alegres; depois, Anson jogou bilhar com entusiasmo contagiante, e várias pessoas que o tinham visto comigo vieram perguntar-me como se chamava.