IV
Caminharam sem falar, excepto quando Carl Miller reconhecia automaticamente a existência de transeuntes. Apenas a respiração incerta de Rudolph perturbava o silêncio de domingo.
O pai parou resolutamente à porta da igreja.
- Decidi que é melhor confessares-te outra vez. Vai contar ao Padre Schwartz o que fizeste e pede perdão a Deus.
- Tu também perdeste a cabeça - disse Rudolph precipitadamente.
Carl Miller deu um passo em direcção ao filho que, à cautela, recuou.
- Está bem, eu vou.
- Vais fazer o que eu disse? - perguntou o pai num murmúrio rouco.
- Está bem.
Rudolph entrou na igreja e, pela segunda vez em dois dias, meteu-se no confessionário e ajoelhou-se. A grade abriu-se quase imediatamente.
- Acuso-me de não rezar as orações da manhã.
- E é tudo?
- É tudo.
Enchia-o uma exultação estonteante. Não seria com facilidade que alguma vez mais poria uma abstracção à frente das necessidades do seu orgulho e do seu bem-estar. Atravessara uma linha invisível e ficara consciente do seu isolamento; consciente de que ele não se aplicava apenas àqueles momentos em que era Blatchford Sarnemington mas a toda a sua vida interior. Até aí, fenómenos como as ambições «loucas» e as pequenas vergonhas e receios tinham sofrido reservas pessoais, não reconhecidas perante o trono da sua alma oficial. Agora apercebia-se inconscientemente de que as suas reservas pessoais eram ele próprio, e tudo o resto era uma fachada ornamentada e uma bandeira convencional. A pressão dos que o rodeavam empurrara-o para a estrada secreta e solitária da adolescência.