No momento em que afirmara uma honra imaculada, uma bandeira de prata ondeara algures na brisa e houvera um ruído de couro e o brilho de esporas prateadas e um bando de cavaleiros esperando a madrugada numa colina verde. O sol fizera estrelas de luz nos seus escudos, como num quadro lá em casa, dos couraceiros alemães em Sedan.
Mas agora o padre murmurava palavras confusas e tristes e o rapaz ficou aterrorizado. O terror entrava subitamente pela janela e a atmosfera da sala mudara. O Padre Schwartz caiu redondo de joelhos e deixou o corpo descansar contra uma cadeira.
- Oh, meu Deus! - gritava ele com uma voz estranha, estendido no chão. Então um desabafo humano elevou-se das roupas gastas do padre e misturou-se pelos cantos com um leve cheiro a comida retardada. Rudolph deu um grito agudo e correu em pânico para fora de casa, enquanto o homem caído jazia imóvel, enchendo a sala de vozes e de rostos até ficar repleta de ecolalia, e fazia soar alto uma nota aguda e firme de gargalhada.
Fora da janela o siroco azul tremia por sobre o trigo, e raparigas de cabelo amarelo passeavam sensuais ao longo das estradas que delimitavam os campos, gritando coisas inocentes e excitantes aos jovens que trabalhavam em filas entre a seara. As pernas moldavam-se por baixo do guingão sem goma e as orlas dos decotes dos vestidos estavam mornas e húmidas. Havia já cinco horas que a vida, quente e fértil, ardia na tarde. Dentro de três horas seria noite e por todos os campos haveria loiras raparigas do norte e homens altos e jovens das quintas estendidos por entre o trigo, sob a lua.