A Década Perdida - Cap. 4: A ABSOLVIÇÃO Pág. 170 / 182

- Olha - gritou - agora têm luzes tão grandes como estrelas. Já pensaste nisso? Ouvi falar de uma luz em Paris ou em qualquer outro sítio que é tão grande como uma estrela. Pertencia a uma data de gente... gente alegre. Agora têm todo o género de coisas com que tu nunca sonhaste.

- Olha lá - aproximou-se de Rudolph mas o rapaz afastou-se, e o Padre Schwartz recuou e sentou-se na sua cadeira, com os olhos ardendo, esbugalhados. - Já alguma vez viste um parque de diversões?

- Não, Padre.

- Olha, vai ver um parque de diversões. - O padre agitava vagamente a mão. - É parecido com uma feira mas muito mais esplendoroso. Vai a noite e fica um pouco retirado, num lugar escuro, debaixo de árvores escuras. Vais ver uma grande roda feita de luzes que giram no ar, e um escorregão comprido que lança barcos na água. Uma orquestra a tocar num sítio qualquer, e um cheiro a amendoins... e tudo a brilhar. Mas não te faz lembrar nada, estás a ver... Só está ali tudo no ar da noite como um balão colorido, como uma grande lanterna amarela num poste.

O Padre Schwartz franziu as sobrancelhas ao pensar em qualquer coisa.

- Mas não te aproximes muito - preveniu- porque se te aproximares só sentirás o calor e o suor e a vida.

Toda esta conversa parecia particularmente estranha e horrível a Rudolph, porque aquele homem era padre. Ali estava sentado, meio aterrorizado, com os lindos olhos muito abertos e pregados no Padre Schwartz. Mas, por baixo do seu terror, pensou que as suas próprias convicções íntimas se confirmavam. Havia algo de inefavelmente maravilhoso em qualquer sítio, que nada tinha a ver com Deus. Já não pensava que Deus estava zangado com ele por causa da mentira inicial, porque devia ter compreendido que Rudolph fizera aquilo para tornar as coisas mais belas no confessionário e para alegrar as cores carregadas das suas confissões, dizendo uma coisa radiosa e arrogante.





Os capítulos deste livro