Lado a lado no sofá, puseram o álbum aberto entre os dois. Nancy olhou para ele sorrindo e muito feliz.
- Ah, isto é tão engraçado - disse ela. - Tão engraçado que tu sejas tão gentil e que te lembres assim de mim, de uma maneira tão bela. Deixa-me dizer-te: quem me dera ter sabido disso então! Depois de te teres ido embora fiquei a odiar-te.
- Que pena - disse ele amável.
- Mas agora não - tranquilizou-o ela; e depois, num impulso: - beija-me para compensar.
- ...isto não é ser uma boa esposa - disse ela passado um minuto. - A verdade é que não beijei dois homens desde que me casei.
Ele estava excitado, mas acima de tudo confuso.
Tinha beijado Nancy? ou uma recordação? ou aquela encantadora desconhecida que, tremendo, desviou os olhos dele e voltou uma página do álbum?
- Espera! - disse ele. - Acho que por uns segundos não posso ver nem mais uma fotografia.
- Não vamos recomeçar. Eu também não me sinto muito calma.
Donald disse uma daquelas coisas triviais que têm tanto alcance.
- Não era horrível se nos apaixonássemos outra vez?
- Pára com isso! - Ela riu-se mas quase sem respiração. - Já acabou. Foi só um momento. Um momento que vou ter de esquecer.
- Não contes ao teu marido.
- Porque não? Geralmente conto-lhe tudo.
- Vais magoá-lo. Nunca contes coisas destas a um homem.
- Está bem, não conto.
- Beija-me uma vez mais - disse ele sem convicção, mas Nancy virara uma página e apontava entusiasmada para uma fotografia.
- Aqui estás tu - gritou. - Aqui mesmo!
Ele olhou. Era um rapazinho de calções num cais com um barco ao fundo.
- Lembro-me - e ria-se triunfante - do próprio dia em que foi tirada.