- Esteve fora dez anos? - perguntou enquanto desciam no elevador.
- Tinham começado o Empire State Building disse Trimble. - Quando é que terá sido?
- Cerca de 1928. Mas como disse o director, teve, muita sorte por não ter assistido a muita coisa. E para ver o que dava, acrescentou: - Se calhar teve coisas mais interessantes para apreciar.
- Não posso dizer que tive.
Chegaram à rua e a maneira como a cara de Trimble se contraiu com o barulho do tráfego levou-o a mais uma conjectura.
- Esteve longe da civilização?
- De certo modo. - As palavras' eram ditas de um modo tão calculado que Orrison concluiu que o homem não falaria a não ser que lhe apetecesse, e pensou consigo se ele teria passado os anos trinta na prisão ou numa casa de doidos.
- Este é o famoso 21 - disse. - Será que prefere comer em qualquer outro sítio?
Trimble parou, olhando atentamente para a casa de pedra castanha.
- Lembro-me de quando o nome 21 ficou célebre - disse ele. - Cerca do mesmo ano do Moriarty's. - Depois continuou quase como quem pede desculpa: pensei que podíamos subir a Quinta Avenida durante uns quinze minutos e comer no sítio onde estivéssemos. Um lugar onde se possa ver gente nova.
Orrison lançou-lhe um olhar perspicaz e mais uma vez pensou em grades e em paredes cinzentas com grades; perguntava a si mesmo se os seus deveres incluiriam apresentar Mr. Trimble a raparigas condescendentes. Mas Mr. Trimble não tinha ar de quem estava a pensar nisso; a expressão dominante era de absoluta e profunda curiosidade e Orrison tentou ligar o nome com o esconderijo do Almirante Byrd no Polo Sul, ou com aviadores perdidos em selvas brasileiras. Era, ou tinha sido, um tipo de respeito; isso era óbvio. Mas a única indicação segura do meio em que vivera - e para Orrison a indicação não levava a parte alguma - era a sua obediência de campónio às luzes do tráfego e a sua predilecção por caminhar rente às lojas e não pela sua.