Ela olhou-o sem responder. O efeito que isto tinha sobre ela era incalculável. Durante anos vira homens em vários graus de embriaguez, desde os tios até aos motoristas, e os seus sentimentos tinham variado entre o divertimento e a repugnância, mas agora, pela primeira vez, invadiu-a um sentimento novo - um horror inexprimível.
- Gordon - disse em tom acusador e quase a chorar -, pareces o diabo.
Ele concordou acenando com a cabeça: - Tenho tido problemas, Edith.
- Problemas?
- Todo o género de problemas. Não digas nada à família, mas estou desfeito. Estou numa aflição, Edith.
O lábio inferior estava descaído. Parecia que mal a via.
- Não és capaz, não és capaz - e hesitava - não és capaz de me contar tudo, Gordon? Bem sabes que me interesso sempre por ti.
Mordeu os lábios. Tencionara dizer algo de mais forte, mas por fim verificou que não era capaz.
Gordon sacudiu a cabeça lentamente. - Não posso contar-te. Tu és uma rapariga decente. Não posso contar esta história a uma rapariga decente.
- Que disparate - disse ela com ar de desafio. - Acho que é um autêntico insulto chamar a alguém rapariga decente dessa maneira. É uma censura. Tens andado a beber, Gordon.
- Obrigadinho - e inclinou a cabeça com ar grave. - Obrigadinho pela informação. - Porque é que bebes?
- Porque me sinto horrivelmente infeliz.
- E pensas que a bebida te faz sentir melhor?
- Que é que estás a fazer? A tentar modificar-me?
- Não; estou a tentar ajudar-te, Gordon. Não me queres contar tudo?
- Estou metido numa trapalhada horrível. A melhor coisa que podes fazer é fingir que não me conheces.
- Porquê, Gordon?
- Desculpa ter ido ter contigo; é injusto para ti.
És uma mulher pura e tudo o mais. Olha, vou arranjar alguém para dançar contigo.
