Vira Gordon por diversas vezes - estivera sentado durante muito tempo nas escadas com a mão a amparar a cabeça, os olhos tristes fixos num ponto distante do pavimento à sua frente, muito deprimido e bastante embriagado - mas de cada vez Edith desviara à pressa o olhar. Tudo parecia ter acontecido há muito tempo; o seu espírito estava agora indiferente, os sentidos embalados num dormitar de êxtase; só os pés dançavam e a voz continuava a falar em gracejos tontos, sentimentais.
Mas Edith não estava tão cansada que não fosse capaz de indignação moral quando Peter Himmel a tirou para dançar, sublime e alegremente bêbedo. Ela respirou fundo e olhou para ele.
- Mas que coisa, Peter!
- Estou um nadinha grosso, Edith.
- Estás num lindo estado, isso é que estás! Não achas que é uma coisa triste, e logo quando estás comigo?
Depois sorriu contra vontade porque ele a olhava com uma sentimentalidade de coruja entremeada por um sorriso espasmódico e pateta.
- Minha querida Edith - começou ele muito sério - sabes que te amo, não sabes?
- Bela maneira de mo mostrares.
- Amo-te, e só queria que me beijasses -:- acrescentou pesaroso. O acanhamento e a vergonha tinham desaparecido. Ela era a rapariga mai' linda do mundo. Tinha os olhos mai' lindos, como estrelas do céu. Queria primeiro pedir 'esculpa por se atrever a tentar beijá-la; e, segundo, por ter bebido, mas tinha ficado tão desanimado, porque pensara que ela estava zangada com ele.
O homem ruivo e gordo interrompeu-os e, olhando para cima, para Edith, sorriu radiante.
- Trouxe alguém consigo? - perguntou ela.
Não. O homem ruivo e gordo era um desemparceirado.
- Importa-se, será uma grande maçada para si levar-me hoje a casa? - (esta timidez extrema era uma afectação encantadora da parte de Edith - ela bem sabia que o homem ruivo e gordo imediatamente se derreteria num paroxismo de alegria).