- Uma luta? Isso é qualquer coisa! - disse Peter, sentando-se vacilante. - Guerra a todos! Eu estive no exército.
- Era um bolchevista.
- Isso é qualquer coisa! - exclamou Peter entusiasmado. - É o que eu digo! Matem os bolchevistas! Acabem com eles!
- Somos «amaricanos» - disse Rose patenteando um patriotismo decidido e atrevido.
- Claro - disse Peter. - O maior povo do mundo! Somos todos «amaricanos»! Tomem mais um.
Tomaram mais um.
VI
Às nove horas uma orquestra especial - especial mesmo num dia de orquestras especiais - chegou ao Delmonico e os seus componentes, sentados arrogantemente à volta do piano, tomaram sobre si o encargo de fornecer música para o baile da Associação Gama Psi. Eram dirigidos por um famoso flautista, célebre em toda a Nova Iorque pela proeza de se apoiar na cabeça e balançar o corpo enquanto tocava na flauta o jazz mais recente. Durante a sua actuação apagavam-se as luzes, excepto o feixe de luz que incidia sobre ele, e um outro raio móvel que lançava sombras trémulas e cores alternadas de caleidoscópio sobre a multidão de dançarinos.
Edith tinha dançado até atingir aquele estado sonhador e fatigado, apenas habitual nas debutantes, um estado equivalente ao calor de um fulano depois de ter bebido vários whiskys. O espírito flutuava-lhe vagamente no regaço da música. Os seus pares mudavam com a irrealidade de fantasmas sob o crepúsculo colorido e cambiante e, na sua indolência, parecia-lhe que se tinham passado dias desde que o baile começara. Falara de muitos assuntos dispersos com muitos homens. Fora beijada uma vez e recebera seis declarações de amor. No começo da noite vários estudantes do penúltimo ano tinham dançado com ela mas, agora, como todas as raparigas mais populares, tinha o seu próprio séquito, isto é, meia dúzia de galanteadores tinham-na escolhido ou iam alternando os encantos dela com os de qualquer outra beldade; tiravam-na para dançar numa sucessão regular, inevitável.
