A Década Perdida - Cap. 2: O DIAMANTE DO TAMANHO DO RITZ Pág. 64 / 182

Lá longe, partindo da ferida azul-negra, arrastava-se uma longa fila de luzes móveis sobre a desolação da terra, e os doze homens de Fish juntavam-se como fantasmas na pequena estação para verem passar o comboio das sete horas, o expresso transcontinental de Chicago. Umas seis vezes por ano, o expresso transcontinental, por qualquer razão inimaginável, parava na aldeia de Fish e, quando tal acontecia, um ou outro personagem desembarcava, subia para um pequeno carro que sempre aparecia vindo da escuridão, e seguia na direcção do pôr-do-sol em ferida. A observação deste fenómeno insignificante e absurdo tornara-se uma espécie de culto entre os homens de Fish. Observar, e era tudo; não restava neles nada da vital qualidade da ilusão que os faria interrogar-se ou especular; se assim não fosse, poderia ter nascido uma religião à volta destas misteriosas visitas. Mas os homens de Fish estavam para além de qualquer religião - os princípios mais simples e primitivos, mesmo os do Cristianismo, não conseguiam criar raízes nesse rochedo estéril; por isso não havia altar, não havia padre, não havia Missa. Apenas todas as tardes, às sete horas, o grupo silencioso junto à estação, numa assembleia que erguia uma oração de vago e tímido espanto.

Nessa noite de Junho, o Grande Guarda-Freio, que podia bem ser escolhido para intermediário celestial se tivessem de deificar alguém, ordenara que o comboio das sete horas deixasse a sua carga humana (ou desumana) em Fish. Às sete horas e dois minutos desembarcaram Percy Washington e John T. Unger, passaram à pressa pelos olhares temerosos, encantados e espantados dos doze homens de Fish, entraram para um pequeno carro que, obviamente, surgira de nenhuma parte, e partiram.

Meia hora depois, quando a luz do crepúsculo se coagulara em escuridão, o negro silencioso que guiava o carro fez sinal a um vulto pesado que estava à frente deles na escuridão.





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