- Ora, isso não é nada. - A boca de Percy era uma meia-lua de desprezo. - Capitalistas aldrabões, peixe miúdo das finanças, comerciantes sem importância e usurários. O meu pai podia comprá-los a todos sem dar por isso.
- Mas como é que ele...
- Por que não lhe baixaram as contribuições?
Porque não as paga, ou pelo menos paga contribuições muito pequenas... mas não paga nenhuma sobre o seu rendimento real.
- Deve ser muito rico - disse John com simplicidade. - Gosto de saber. Gosto de pessoas muito ricas. - Quanto mais rico é um tipo, mais eu gosto dele. - Havia no seu rosto moreno uma expressão de franqueza exaltada. - Na última Páscoa visitei os Schnlitzer-Murphy. A Vivian Schnlitzer-Murphy tem rubis do tamanho de ovos de galinha e safiras como globos com luzes dentro.
- Gosto muito de jóias - concordou Percy entusiasmado. - Claro que não quero que ninguém da escola saiba, mas eu próprio tenho uma grande colecção. Costumava coleccioná-las em vez de selos.
- E diamantes - continuou John com veemência. - Os Schnlitzer-Murphy têm diamantes do tamanho de nozes.
- Isso não é nada. - Percy inclinara-se para a frente e baixara a voz até ser um murmúrio. - Isso não é mesmo nada. O meu pai tem um diamante maior do que o Hotel Ritz-Carlton.
II
Em Montana o pôr-do-sol surgia entre duas montanhas como uma ferida gigantesca de onde se estendiam artérias escuras por sobre um céu ameaçador. Por baixo do céu, a enorme distância, escondia-se a aldeia de Fish, minúscula, triste e esquecida. Dizia-se que havia doze homens na aldeia de Fish, doze almas, sombrias e misteriosas, que extraíam das rochas quase totalmente nuas, onde uma estranha força povoadora os tinha gerado, um magro sustento. Tinha-se tornado uma raça à parte, estes doze homens de Fish, como uma espécie criada por um prematuro capricho da natureza, que depois os abandonara à luta e ao extermínio.