- Quando podes pagar-me?
Já era uma esperança. Gordon pôs-se a pensar. Talvez fosse mais prudente ser franco.
- Está claro que podia prometer-te que pagarei no mês que vem, mas o melhor é dizer três meses, mal comece a vender desenhos.
- E como é que sabes que vais vender desenhos? Uma nova dureza na voz de Dean provocou em Gordon um ligeiro arrepio de dúvida. Seria possível não conseguir o dinheiro?
- Julgava que tinhas alguma confiança em mim.
- E tinha, mas quando te vejo nesse estado começo a duvidar.
- Achas que se não estivesse na última viria ter contigo assim? Julgas que gosto? - Calou-se e mordeu os lábios, pensando que faria melhor em dominar a raiva que lhe transparecia na voz. Ao fim e ao cabo, o necessitado era ele.
- Parece que para ti é muito fácil - disse Dean irritado. - Pões as coisas de uma maneira que se não te emprestar o dinheiro sou um idiota. Isso é que pões, sim senhor! E deixa-me dizer-te que não me é fácil arranjar trezentos dólares. O que recebo não é tanto que uma quantia dessas não me faça transtorno.
Levantou-se da cadeira e começou a vestir-se, escolhendo cuidadosamente as peças de roupa. Gordon estendeu os braços e agarrou as bordas da cama, reprimindo um desejo de gritar. Tinha dores de cabeça e zumbidos nos ouvidos, tinha a boca seca e amarga e podia sentir a febre no sangue decompor-se em inúmeras partículas iguais, como o lento gotejar de um telhado.
Dean fez o nó da gravata com gestos precisos, escovou as sobrancelhas e, com solenidade, tirou dos dentes um pedaço de tabaco. A seguir encheu a cigarreira, deitou pensativo a caixa vazia para o cesto dos papéis e meteu a cigarreira no bolso do colete.
- Já tomaste o pequeno almoço? - perguntou.
- Já me deixei disso.