- Para ti isso é fácil de dizer - começou Gordon com os olhos a ficarem pequeninos, - Tens todo o dinheiro deste mundo.
- Nem por sombras! A minha família controla-me todas as despesas. Lá porque tenho algumas facilidades ainda preciso de ser mais cuidadoso para não abusar.
Levantou a persiana deixando entrar mais sol.
- Deus sabe que não sou nenhum pedante - continuou resolutamente. - Gosto de me divertir e então numas férias como estas gosto de me divertir muito; tu estás muito por baixo, nunca te tinha ouvido falar assim. Dá a impressão que estás falido, tanto moral como financeiramente.
- No geral as duas coisas andam juntas, não é? Dean abanou a cabeça com impaciência.
- Estás com um ar que não entendo bem. É uma espécie de perversidade.
- É um ar de preocupações e de pobreza e de noites sem dormir - disse Gordon em tom de desafio.
- Não sei.
- Admito que estou deprimente. Até me deprimo a mim próprio. Mas, santo Deus, Phil, uma semana de descanso, um fato novo e algum dinheiro e ficarei como... como era. Phil, sei desenhar muito bem e tu sabe-lo. Mas metade do tempo não tenho tido dinheiro para comprar material de desenho decente, e não posso desenhar quando estou cansado e desanimado, quando ando em baixo. Com algum dinheiro posso tirar umas semanas de férias e começar de novo.
- Como sabes que não irias gastá-lo com qualquer outra mulher?
- Para que hás-de estar a repisar? - disse Gordon calmamente.
- Não estou a repisar. Detesto ver-te nesse estado.
- Emprestas-me o dinheiro, Phil?
- Não posso decidir já. É muito dinheiro e faz-me o maior transtorno.
- Vai ser uma desgraça se não mo emprestares; sei que estou a lamentar-me e tudo é apenas culpa minha, mas isso não altera nada.