O Grande Gatsby - Cap. 1: Capítulo I Pág. 10 / 173

De novo me aflorou aos lábios uma espécie de desculpa. Quase todas as exibições de completa auto-suficiência têm o condão de me arrancar um tributo estonteante.

Voltei a olhar para a minha prima, que começou a fazer-me perguntas no seu tom de voz baixo e excitante. Era aquele tipo de voz que o nosso ouvido segue em altos e baixos, como se cada fala fosse um arranjo de notas musicais que nunca mais voltariam a ser tocadas. O seu rosto era triste e encantador, incrustado de coisas brilhantes: uns olhos brilhantes e uma boca ardente de paixão, mas na sua voz havia uma excitação que os homens que a tinham desejado achavam difícil de esquecer - uma compulsão cantante, um «Escute» sussurrado, uma sugestão de que, há alguns instantes apenas, tinha estado a fazer coisas alegres e estimulantes e de que havia no ar outras tantas para fazer na hora seguinte.

Disse-lhe que, a caminho do Leste, tinha parado um dia em Chicago e que uma boa dúzia de pessoas lhe tinha enviado por mim todo o seu afecto.

- Sentem a minha falta? - perguntou extasiada.

- Toda a cidade está desolada. Todos os carros andam com a roda esquerda traseira pintada de preto com uma grinalda fúnebre e há um carpir persistente, durante toda a noite, ao longo da costa norte.

- Que magnífico! Vamos voltar, Tom. Amanhã mesmo! - Depois acrescentou, irrelevantemente. - Tem de ver a bebé.

- Bem gostava.

- Agora está a dormir. Já tem três anos. Nunca a viu?

- Não, nunca.

- Então tem de a conhecer. Ela é...

Tom Buchanan, que tinha andado de um lado para o outro da sala, impacientemente, parou e poisou a mão no meu ombro.

- E você, que é que faz, Nick? - Sou corretor de fundos.

- Onde?

Respondi-lhe.

- Nunca ouvi falar nessa firma - observou decididamente.





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