- Aquilo é que é desporto! - disse Tom, abanando a cabeça. - Gostava de estar ali uma hora.
Almoçámos na sala, igualmente às escuras por causa do calor, afogando a jovialidade nervosa na cerveja fria.
- Que vamos nós fazer esta tarde? - exclamou Daisy. - E amanhã, e durante os próximos trinta anos?
- Não sejas mórbida! - disse Jordan. - Quando vier o Outono e o tempo arrefecer, a vida começa de novo.
- Mas está tanto calor! - insistiu Daisy, à beira das lágrimas. - E está tudo tão confuso! Vamos todos para a cidade!
A sua voz debatia-se obstinadamente contra o calor, procurando dar forma à sua vacuidade.
- Já vi transformarem uma cavalariça em garagem - dizia Tom a Gatsby -, mas sou eu o primeiro a transformar uma garagem em cavalariça.
- Quem é que quer ir para a cidade? - insistiu Daisy: Os olhos de Gatsby flutuaram em direcção a ela. - Ah! - exclamou ela -, parece tão calmo!
Os olhos de ambos encontraram-se e fixaram-se um no outro, sozinhos no espaço. Com esforço, ela baixou-os para a mesa:
- Parece sempre tão calmo! - repetiu.
Ela tinha-lhe dito que o amava e Tom Buchanan viu que assim era. A sua boca entreabriu-se levemente, a olhar para Gatsby e depois outra vez para Daisy, como se acabasse de reconhecer nela alguém que conhecera há muito tempo.
- Você faz-me lembrar o anúncio do homem - continuou ela inocentemente. - Conhece aquele anúncio com um homem...
- Pois bem! - interrompeu energicamente Tom -, por mim, estou perfeitamente disposto a ir até à cidade. Vamos embora... todos para a cidade!
Levantou-se, com os olhos ainda a chispar entre Gatsby e a mulher. Ninguém se mexeu.
- Vamos embora! - começou a perder o controlo. - Mas, afinal, que se passa? Para ir à cidade, tem de ser já!
Com a mão a tremer do esforço de se dominar, levou à boca o resto da cerveja.