O Grande Gatsby - Cap. 8: Capítulo VIII Pág. 144 / 173

É que Daisy era nova e o seu mundo artificial rescendia a orquídeas e a amável e alegre snobismo, e ressoava de orquestras que marcavam o ritmo do ano e eram a soma da melancolia e das solicitações da vida em novas melodias. Os saxofones gemiam toda a noite o comentário desesperançado dos Beale Street Blues, enquanto cem pares de sapatos doirados e prateados se arrastavam na poeira cintilante. À hora cinzenta do chá, havia sempre salas a vibrar, incessantemente, com esta grave e doce febre, enquanto faces frescas derivavam, como pétalas de rosa, por aqui e acolá, ao triste sopro das trompas espalhadas pelo chão.

Por este universo crepuscular recomeçou Daisy a mover-se, chegada a estação; voltou de repente a marcar meia dúzia de encontros por dia, com outros tantos homens, e a adormecer pela madrugada, com o chiffon do vestido de noite, bordado a pérolas, todo enrodilhado entre as orquídeas moribundas, no chão, ao lado da cama. E todo este tempo, alguma coisa dentro dela reclamava uma decisão. Queria ver a sua vida ganhar forma sem demora, imediatamente, e a decisão teria de ser tomada por alguma força que lhe estivesse logo à mão - amor, dinheiro, inquestionável senso prático.

Essa força ganhou forma em meados da Primavera, com a chegada de Tom Buchanan, cujas personalidade e posição se mostraram de uma solidez salutar que agradou a Daisy. Ela teve, sem dúvida, um conflito interior, mas sentiu ao mesmo tempo um certo alívio. Gatsby estava ainda em Oxford quando a carta dela lhe chegou às mãos.

A aurora já rompia em Long Island e fomos abrir o resto das janelas do rés-do-chão, inundando a casa de uma luz que ia passando do cinzento ao doirado. A sombra de uma árvore caiu abruptamente através do orvalho e por entre as folhas azuladas pássaros espectrais começaram com os seus chilreios.





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