O Grande Gatsby - Cap. 8: Capítulo VIII Pág. 149 / 173

com rapazinhos à procura de manchas de sangue no pó da estrada e um ou outro sujeito mais palrador, que não se cansava de contar o acidente, até que este acabasse por perder toda a realidade, inclusivamente para ele próprio, e se tornasse incapaz de continuar a descrevê-lo, e o trágico fim de Myrtle Wilson passasse ao esquecimento. Preciso de recuar agora um pouco para relatar o que aconteceu na garagem, depois de, na noite anterior, de lá termos saído.

Foi difícil localizar a irmã dela, Catherine. Devia ter quebrado, nessa noite, a sua regra de abstinência, pois quando ali chegou estava embrutecida pelo álcool e foi incapaz de perceber que a ambulância já tinha partido para Flushing. Quando, por fim, conseguiram meter-lhe isto na cabeça, desmaiou, como se esse pormenor fosse o aspecto mais intolerável do caso. Alguém, por comiseração ou curiosidade, a levou no seu carro, no rasto do cadáver da irmã.

Até muito depois da meia-noite, a multidão dos curiosos, constantemente a renovar-se, continuou a bater contra a porta da garagem, enquanto George Wilson se balouçava para trás e para a frente, lá dentro, no sofá. A porta do escritório ficou aberta por algum tempo e toda a gente que entrava na garagem olhava irresistivelmente lá para dentro. Até que alguém achou que era uma vergonha e fechou a porta. Michaelis e outros homens faziam-lhe companhia: primeiro, eram quatro ou cinco, depois só dois ou três, até que Michaelis teve de rogar ao último estranho que esperasse mais quinze minutos, enquanto ele ia a casa fazer uma cafeteira de café. Depois disso, ficou ali sozinho com Wilson até ao amanhecer.

Por volta das três da manhã, o incoerente murmúrio de Wilson mudou - ficou mais calmo e começou a falar do carro amarelo. Anunciou que tinha uma maneira de descobrir a quem pertencia o carro, e de repente disse, sem pensar, que, uns dois ou três meses atrás, a mulher tinha voltado da cidade com a cara pisada e o nariz inchado.





Os capítulos deste livro