O Grande Gatsby - Cap. 1: Capítulo I Pág. 17 / 173

Escusado será dizer que não se falou mais de cavalos.

Tom e Miss Baker, com vários pés de crepúsculo a separá-los, deambularam para as traseiras, a caminho da biblioteca, como se fossem para a noite de vela de um cadáver perfeitamente tangível, enquanto eu, esforçando-me por me mostrar agradavelmente interessado, e um pouco surdo, segui Daisy até ao átrio de entrada, depois de contornar uma série de varandas ligadas umas às outras, Envoltos em profunda escuridão, sentámo-nos, lado a lado, num canapé de vime.

Daisy levou as mãos ao rosto, como que para sentir-lhe os graciosos contornos, e os seus olhos penetraram, gradualmente, o crepúsculo aveludado. Percebi que a possuíam turbulentas emoções e resolvi fazer-lhe algumas perguntas acerca da sua filhinha, que, a meu ver, poderiam actuar como um sedativo.

- Não nos conhecemos lá muito bem, Nick - disse subitamente. - Apesar de sermos primos. Não veio ao meu casamento.

- Ainda não tinha voltado da guerra.

- Lá isso é verdade - hesitou. - Bem, tenho passado um mau bocado, Nick, e sinto-me bastante cínica e respeito de tudo.

Tinha, evidentemente, razão para assim se sentir. Esperei, mas ela não disse mais nada e momentos depois voltei, já mais debilmente, ao assunto da filha.

- Suponho que fala e... come, enfim, essas coisas todas.

- Oh! Sim! - Olhou para mim de um modo ausente.- Escute, Nick, deixe-me contar-lhe o que eu disse quando ela nasceu. Gostava de ouvir?

- Mesmo muito.

- Isso já lhe mostra como passei a sentir as coisas. Bom, tinha ela menos de uma hora de vida e o Tom estava só Deus sabe onde. Despertei da anestesia com uma sensação de completo abandono e perguntei logo à enfermeira se era rapaz ou rapariga. Quando ela me respondeu que era uma rapariga, voltei a cabeça para o lado e comecei a chorar.





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