- Está bem - disse eu -, fico muito contente que seja uma rapariga e oxalá seja uma cabeça no ar... a melhor coisa que uma rapariga pode ser neste mundo é ser bonita e leviana.
- Por aqui já vê que, em minha opinião, tudo é horrível, ao fim e ao cabo - prosseguiu de modo convincente. - Toda a gente pensa da mesma maneira, mesmo as pessoas mais evoluídas. E disso sei eu. Estive em toda a parte, vi tudo e fiz tudo. - Os olhos faiscaram-lhe em volta, num ar de desafio, muito à maneira de Tom, e riu-se com emocionante desdém. - Sofisticada... e a que ponto, meu Deus!
Foi no momento exacto em que parou abruptamente de falar, deixando, assim, de forçar a minha atenção e a minha convicção, que eu senti a insinceridade básica do que ela tinha Dito. Fiquei apreensivo, como se toda aquela noite tivesse sido um estratagema de qualquer espécie para extorquir de mim uma emoção contributiva. Esperei e realmente, em dado momento, ela olhou para mim com um sorriso afectado no adorável rosto, como se tivesse afirmado a sua qualidade de membro de uma sociedade secreta, particularmente distinta, a que ela e Tom pertencessem.
Lá dentro, a sala carmesim resplandecia de luz. Tom e MISS Baker estavam sentados, cada um em sua extremidade do comprido sofá e ela lia para ele, em voz alta, a Saturday Evening Post - fluindo as palavras, murmuradas e sem inflexões, numa melodia paliativa. A luz do candeeiro de lustre reflectia-se nas botas dele e no amarelo de folha de Outono do cabelo dela e resplandecia ao longo das páginas que ela ia virando com uma vibração da delgada musculatura dos seus braços.
Quando entrámos, ela levantou a mão, a impor-nos silêncio por um instante.
- Continua no próximo número - disse, atirando a revista para cima da mesa.