O Grande Gatsby - Cap. 3: Capítulo III Pág. 51 / 173

Vi-me sozinho e eram quase duas da manhã. Das inúmeras janelas de uma comprida sala, que davam para o terraço, chegavam-me há algum tempo sons confusos e intrigantes.

Esquivando-me ao bacharel que viera com Jordan, que estava agora envolvido numa conversa sobre obstetrícia com duas raparigas do coro e me implorara que me juntasse a ele, fui para dentro.

O salão estava apinhado de gente. Uma das raparigas de amarelo estava a tocar piano e de pé, a seu lado, uma mulher ainda nova, alta e ruiva, que pertencia a um coro famoso, cantava. Tinha bebido uma boa quantidade de champanhe e no decorrer da canção decidira, ineptamente, que tudo era muito, muito triste - e não só cantava como chorava. Sempre que havia uma pausa na canção, ela preenchia-a com soluços quebrados e arquejantes e depois retomava a lírica com uma voz de soprano algo trémula. As lágrimas corriam-lhe pela cara abaixo - mas não livremente, pois que, ao entrarem em contacto com as pestanas muito pintadas, assumiam uma coloração de tinta e prosseguiam o caminho que lhes faltava em lentos riachos negros. Alguém lhe fez a humorística sugestão de que cantasse antes as notas que lhe corriam pelo rosto, ao que ela levantou as mãos para o tecto, afundou-se numa poltrona e entrou num profundo sono alcoólico.

- Ela esteve a discutir com um homem que diz que é marido dela - explicou uma rapariga que estava mesmo ao meu lado.

Olhei à volta. A maior parte das mulheres presentes estava agora a discutir com homens que diziam ser seus maridos. Até o grupo de Jordan, o quarteto de East Egg, se fendeu em dois por dissensão. Um dos homens falava com particular intensidade para uma jovem actriz, e a sua mulher, depois de tentar rir-se da situação de uma forma digna e indiferente,





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