O Grande Gatsby - Cap. 1: Capítulo I Pág. 6 / 173

olhar de qualquer um, mas como era pequena, sempre passava despercebida e, fosse como fosse, eu tinha o panorama da baía, uma vista parcial do relvado do meu vizinho e a consoladora proximidade de milionários - e tudo por oitenta dólares mensais.

Do outro lado da delicada baía, resplandeciam pela água os brancos palácios do «chique» East Egg (ovo oriental) e a história desse Verão começa realmente num fim de tarde em que fui de carro até lá, para jantar com os Buchanan. Daisy era filha de uns primos meus em segundo grau e Tom, conhecia-o da universidade; já tinha passado dois dias com eles em Chicago, logo a seguir à guerra.

O marido dela, entre vários talentos físicos, tinha sido um dos mais prestigiosos pontas-de-lança que o futebol de New Haven conhecera - era, em sentido restrito, urna figura nacional, um desses homens que aos vinte e um anos atingem uma excelência tal que tudo o que fizerem a partir daí tem o sabor de anticlímax. A sua família era extraordinariamente rica - já na universidade o à-vontade com que manejava o dinheiro era motivo de censura, mas agora tinha abandonado Chicago e vindo para o Leste em condições tais, que deixava qualquer pessoa estupefacta: tinha trazido de Lake Forest, por exemplo, uma récua de póneis de pólo. Na minha geração era difícil imaginar que alguém fosse a tal ponto rico que se desse a um luxo destes.

Por que razão vieram para o Leste, não sei. Tinham estado um ano em França, aparentemente sem um motivo particular, e derivado depois, sem parar, por aqui e por acolá, onde quer que houvesse pessoas ricas como eles que jogassem pala. Desta vez era para ficarem, dizia Daisy ao telefone, mas não acreditei - não conseguia ver o que se passava no íntimo de Daisy, mas qualquer coisa me dizia que Tom, com aquela muito sua insaciabilidade, continuaria para sempre a divagar à procura da dramática turbulência de um qualquer irrecuperável jogo de futebol.





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