O Grande Gatsby - Cap. 1: Capítulo I Pág. 7 / 173

E assim aconteceu que, num fim de tarde quente e ventoso, me meti de automóvel a caminho de East Egg, para ir visitar dois velhos amigos que, a bem dizer, mal conhecia. A casa deles era ainda mais requintada do que eu já esperava, uma, alegre mansão colonial, vermelha e branca, ao estilo georgiano, que dava para a baía. O relvado começava na praia e corria por um quarto de milha em direcção à porta principal, saltando por cima de relógios de sol, passadeiras de tijolo e jardins estimulantes -- momento final este em que tocava a casa, derivando pelas paredes acima em trepadeira viva, como se levado pelo impulso da sua corrida. A fachada era rasgada por uma fila de portas envidraçadas, agora resplandecentes com os doirados reflexos do sol e abertas de par em par ao ar quente e ventoso do entardecer, e Tom Buchanan, em traje de equitação, estava de pé e de pernas afastadas no pórtico de entrada.

Tinha mudado, desde NewHaven. Era agora um robusto trintão, de cabelo cor de palha, com uma boca muito dura e um ar de Superioridade. Dois olhos brilhantes de arrogância dominavam-lhe o rosto e conferiam-lhe o aspecto de estar sempre agressivamente inclinado para a frente. Nem mesmo a efeminada elegância do traje de equitação conseguia esconder o enorme poder físico daquele corpo - parecia que enchia aquelas botas reluzentes até rebentar os atacadores e, quando o seu ombro se movia por debaixo do fino casaco, deixava transparecer uma grande massa compacta de músculos em contracção. Era um corpo capaz de uma enorme força mecânica - um corpo cruel.

Quando falava, a sua voz de tenor, áspera e rouca, aumentava a impressão de intratabilidade que ele já por si comunicava, havia nela um toque de paternal desdém, mesmo para com as pessoas de quem gostava - em New Haven havia colegas que lhe tinham um ódio visceral.





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