O Grande Gatsby - Cap. 4: Capítulo IV Pág. 68 / 173

Estes seguiram-nos com os olhos trágicos e os curtos lábios superiores das gentes do Sudeste da Europa, e eu fiquei satisfeito por o espectáculo que em si era o esplêndido carro de Gatsby se integrar no seu cortejo fúnebre.

Ao atravessarmos Blackwell's Island, ultrapassou-nos uma limusina, conduzida por um motorista de casaco branco, onde iam sentados três negros vestidos à moda, dois janotas e uma rapariga. Ri-me com vontade quando as gemas dos seus globos oculares rolaram na nossa direcção com ostensiva e desdenhosa rivalidade.

«Agora, que chegámos ao fim desta ponte, tudo pode acontecer», pensei eu. «Mesmo tudo...»

O próprio Gatsby podia acontecer, sem um espanto por aí além.

O tumulto do meio-dia. Encontrei-me com Gatsby, para almoçar, numa cave bem arejada da 42nd Street. Ainda meio ofuscado pelo esplendor da rua, lá fora, consegui enxergá-lo na penumbra da antecâmara, a conversar com outro homem.

- Senhor Carraway, apresento-lhe o meu amigo senhor Wolfshiem.

Um judeu pequeno, de nariz achatado, levantou a enorme cabeça e fixou os olhos em mim, com dois belos tufos de pêlo a despontarem-lhe exuberantemente de cada narina. Só passado um instante lhe descobri os minúsculos olhos na semiescuridão.

- ...Então, olhei bem para ele - disse o senhor Wolfshiem, apertando-me energicamente a mão. -... e que pensa você que eu fiz?

- Que fez? - perguntei delicadamente.

Mas era evidente que não era a mim que ele se dirigia, pois largou-me a mão e cobriu Gatsby com o seu expressivo nariz.

- Entreguei o dinheiro ao Katspaugh e disse: «Pois bem, Katspaugh, não lhe pague um único centavo enquanto ele não calar a boca!» Foi remédio santo: calou-se imediatamente e de uma vez por todas.

Gatsby agarrou-nos a ambos por um braço e avançou para o restaurante, após o que o senhor Wolfshiem engoliu uma frase que ia começar e caiu numa abstracção sonambular.





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