Ao apertar-nos as mãos e virar costas para se ir embora, o seu trágico nariz estava a tremer. Fiquei a matutar se, sem querer, lhe teria dito alguma coisa que o tivesse ofendido.
- Às vezes fica assim, todo virado para o sentimento - explicou Gatsby. - E hoje é um desses dias. É uma figura excêntrica aqui, em Nova Iorque, um frequentador assíduo da Broadway.
- Mas, afinal, o que é ele, actor?
- Não.
- Dentista?
- Quem, Meyer Wolfshiem? Não, é jogador. - Gatsby hesitou, depois acrescentou friamente: - É o homem que «consertou» o Campeonato Mundial de 1919.
- O quê? Foi ele que «consertou» o Campeonato Mundial? - repeti eu.
A ideia atordoou-me. Lembrava-me, naturalmente, que o Campeonato Mundial de 1919 tinha sido «preparado», mas, mesmo que tivesse pensado bem no assunto, para mim não teria sido mais do que uma coisa que meramente «acontecera», o resultado de uma sucessão de acontecimentos inevitáveis. O que nunca me teria ocorrido é que houvesse alguém capaz de fazer pouco da boa fé de cinquenta milhões de pessoas, com o mesmo sangue-frio com que um assaltante arromba um cofre.
- Mas como é que ele conseguiu fazer isso? - perguntei, ao fim de um minuto.
- Surgiu-lhe a oportunidade e ele aproveitou-a, é tudo.
- E como é que não foi parar à cadeia?
- Não conseguem apanhá-lo, meu velho. É cá um finório!
Insisti em pagar a minha conta. Quando o empregado me trouxe o troco, avistei Tom Buchanan do outro lado da sala cheia de gente.
- Venha daí comigo só por um minuto - disse eu -, vou só ali cumprimentar uma pessoa.
Quando nos viu, Tom levantou-se de um pulo e deu meia dúzia de passos em direcção a nós.
- Por onde tem você andado? - preguntou impacientemente. - A Daisy está furiosa porque você nem sequer tem telefonado.