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Capítulo 2: Capítulo 2

Página 27

Tendo terminado as minhas patéticas exclamações, calei-me (pateticamente). Lembro-me bem, tinha uma terrível vontade de rebentar em gargalhadas, de rir desmesuradamente, pois sentia crescer dentro de mim um diabinho inimigo, que a minha garganta começava a estar presa, que o queixo me tremia e que cada vez mais os olhos se me marejavam de lágrimas... Esperava que Nastenka, que me escutava atentamente, com os seus grandes e inteligentes olhos verdes muito abertos, ia explodir em gargalhadas infantis, irresistivelmente jovial, e já me começava a arrepender de ter ido demasiado longe, de ter contado em vão aquilo que desde há tanto tempo me enchia o coração, aquilo de que podia falar como se estivesse a ler num livro, pois desde longa data a minha sentença sobre mim mesmo estava decidida (e eu não me impedira de a ler, ainda que, confesso-o, não esperasse ser compreendido)... Porém, com grande surpresa minha, ela guardou silêncio, deixou decorrer um momento, comprimiu levemente a minha mão e com uma tímida simpatia perguntou:

— É verdade que passou desse modo toda a sua vida?

— Toda a minha vida, Nastenka — respondi —, toda a minha vida, e, segundo me parece, acabá-la-ei da mesma forma!

— Não, é impossível — replicou com tranquilidade —, não será assim. Será dessa maneira, isso sim, que irá decorrer a minha, junto da avó. Escute: sabe que não se deve viver assim?

— Eu sei, Nastenka, eu sei! — exclamei, sem poder conter a minha emoção. — E agora sei melhor do que nunca que perdi gratuitamente os melhores anos da minha vida! Agora sei-o, e, cruelmente, tenho disso uma consciência mais aguda desde que Deus a enviou junto de mim, a si, meu bom anjo, para mo dizer e provar. Agora, que estou sentado junto de si e que falo consigo, tenho medo de pensar no futuro, pois no futuro será ainda a solidão, ainda esta vida inútil e reservada... e no que poderei depois sonhar quando, acordado, ao seu lado, fui de tal modo feliz? Seja bendita, minha querida, por não me ter repelido imediatamente, por me ter permitido dizer hoje que, pelo menos, pude viver duas noites em toda a minha vida!

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Capa do livro Noites Brancas
Páginas: 67
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Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 14
Capítulo 3 44
Capítulo 4 52
Capítulo 5 65