, fenómenos ocultos, misteriosos, discutidos entre a zombaria e a incredulidade de uns e a credulidade medrosa de outros - eis o assunto de toda a conversação de uma ordem mais elevada ou com pretensões a tal. Eu lia tudo quanto se publicava sobre o caso, e hesitante, baloiçado entre a dúvida e a certeza, intuitivamente crédulo e refletidamente descrente, preso deste indefinido mal-estar que nos avassala perante os factos desconhecidos, fora do nosso conhecimento imediato, não conseguia firmar uma opinião, ver esboçar-se o prelúdio de uma vaga certeza.
«Até que um dia, ou antes uma noite, o meu espírito sossegou, apoiado a uma absoluta convicção que os factos até hoje não vieram desmentir.
«Não, meus senhores, os mortos não voltam. Nada faltou à preparação da magistral experiência que o acaso me fez presenciar: campo experimental, cenário, ambiente particular, emoção elevadíssima, tudo! E, nessa noite, depois das rápidas parcelas de segundo de um voo para além dos limites do consciente, a alma poisou de novo no domínio da vida material sem ter visto, sem ter sentido nada.
O Dr. X. fez uma pausa, olhou a noite recamadinha de estrelas, e pareceu escutar a voz soturna das ondas, rezando o seu cantochão de eterna ansiedade.
- Foi em casa da Senhora L. - principiou ele.
- Você conhece, Veiga - disse, voltando-se para um rapaz alto e loiro, de monóculo -, a deliciosa velhinha que possui, num cenário de maravilha, le dernier salon ou l’on cause. Faz agora anos por estes dias. Festejava-se num jantar íntimo a saída, do colégio, da neta, a endiabrada garota que hoje é mãe não sei já de quantos taludos bebés. Estávamos todos no terraço, depois de jantar, naquele lindo terraço todo em mármore cor-de-rosa, janela escancarada sobre o mar, que parece ter sido idealizado por um paxá das Mil e Uma Noites.