Em todos os tempos, ela pôs a ênfase da disciplina na supressão (da sensibilidade, do orgulho, do desejo de domínio, de posse e de vingança). - Mas atacar os sofrimentos na raiz é o mesmo que atacar a vida na raiz: a práxis da igreja é inimiga da vida...
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O mesmo remédio, a castração e a extirpação, é instintivamente escolhido no interior da luta contra o desejo por aqueles que estão demasiado degenerados, demasiado enfraquecidos em suas vontades, para poderem se impor uma medida nos desejos: por aquelas naturezas que têm necessidade de "La Trappe", dito alegoricamente (e sem alegoria), de qualquer declaração definitiva de inimizade, de um abismo entre elas e uma paixão. Os remédios radicais só são indispensáveis para os degenerados. A fraqueza da vontade, falando mais determinadamente, a incapacidade de permanecer sem reação frente a um estímulo, é mesmo apenas uma outra forma de degenerescência. - A inimizade radical, a inimizade de morte frente à sensibilidade continua sendo um sintoma digno de reflexão. Com ela tem-se o direito de fazer suposições sobre o estado conjunto de quem é desta forma tão excessivo. - Essa inimizade, esse ódio, aliás, só alcança o seu ápice quando tais naturezas mesmas já não possuem mais firmeza suficiente para seu tratamento radical, para a renúncia a seu "Diabo". Abrange-se com a vista toda a história dos sacerdotes e dos filósofos, incluindo a dos artistas: não são os impotentes, nem tampouco os ascetas, que lançam o que há de mais venenoso contra os sentidos, mas os ascetas impossíveis, aqueles que teriam tido necessidade de ser ascetas...
3.
A espiritualização da sensibilidade chama-se amor: ela é um grande triunfo sobre o Cristianismo. Um outro triunfo é a nossa espiritualização da inimizade.