Mas ora, isto é inglês; e, considerando que o inglês é o povo da cant [hipocrisia] perfeita, é mesmo legítimo, e não apenas compreensível. No fundo, Carlyle é um ateu inglês, que busca sua honra justamente no fato de não o ser.
13.
Emerson - Muito mais esclarecido, errante, múltiplo, refinado do que Carlyle; e, antes de tudo, mais feliz... Alguém que não se alimenta senão com ambrósia e que deixa de lado o que há de indigesto nas coisas. Tomado em contraposição a Carlyle, um homem de gosto. - Carlyle, porém, que tanto o amou, dizia dele: "ele não nos dá o suficiente para morder": o que pode até ser dito com direito, mas não em detrimento de Emerson. - Emerson possui aquela boa e espirituosa serenidade, que desencoraja toda seriedade; ele simplesmente não sabe o quão velho já é e o quão jovem ainda será - ele poderia dizer de si com uma sentença de Lope de Vega: "yo me sucedo a mi mismo". Seu espírito sempre encontra razões, para estar satisfeito e mesmo agradecido; e por vezes ele toca a serena transcendência daquele homem distinto, que retornava de um encontro amoroso tarquam rebene gesta. "Ut de sint vires, ele dizia agradecido, tamen est laudanda voluptas".
14.
Anti-Darwin. No que concerne à célebre luta pela vida, ela me parece a princípio mais afirmada do que provada. Ela acontece, mas enquanto exceção; o aspecto conjunto da vida não é a indigência e a penúria famélicas, mas muito mais a riqueza, a exuberância, mesmo o desperdício absurdo - onde há luta, luta-se por potência... Não se deve confundir Malthus com a natureza. No entanto, suposto que haja esta luta e, de fato, ela se dá -, ela transcorre infelizmente de modo inverso ao que a escola de Darwin deseja; de modo inverso ao que talvez se pudesse desejar: isto é, em detrimento dos fortes, dos privilegiados, das felizes exceções.