Mas nada, absolutamente nada nos garante que justamente o homem forneça o modelo da beleza. Quem sabe como ele se apresenta aos olhos de um elevado juiz de gosto? Talvez ousado? Talvez mesmo animador? Talvez um pouco arbitrário?... "Oh Dioniso, divino, por que tu me puxas as orelhas?", perguntou Ariadne certa vez a seu amante filosófico, em um daqueles célebres diálogos por sobre a ilha de Naxos. "Eu vejo algo de gracioso em tuas orelhas, Ariadne: por que elas não são ainda mais longas?"
20.
Nada é belo, só o homem é belo: é sobre esta ingenuidade que repousa toda e qualquer estética, ela é sua primeira verdade. Acrescentemos imediatamente ainda sua segunda verdade: nada é feio senão quando é o homem que o degenera - com isso o reino do juízo estético está circunscrito. - Conferido fisiologicamente, tudo o que é feio enfraquece e aflige o homem. Ele faz com que o homem relembre o declínio, o perigo, a impotência; o homem experimenta de fato aí uma dissipação de força. Pode-se medir o efeito do feio com o dinamômetro. Em geral, ao padecer de uma pressão que o impele para baixo, o homem fareja a aproximação de algo "feio". Seu sentimento de potência, sua vontade de potência, sua coragem, seu orgulho - tudo isto decai com o feio, tudo isto se eleva com o belo... Em um caso como no outro, tiramos uma conclusão: as premissas para tanto estão acumuladas, sob a forma de uma abundância monstruosa, nos instintos. O feio é entendido como um sinal e um sintoma de degenerescência: o que mais longinquamente nos faz lembrar a degenerescência produz em nós o surgimento do juízo "feio".