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Capítulo 9: Capítulo 9

Página 102
. Na manhã de terça-feira encontrei-o na rua, muito espantado com o tiroteio generalizado, e fez-me a pergunta que todos faziam:

- Que diabo está acontecendo?

Expliquei-lhe o melhor que pude, e Thompson comentou logo em seguida:

- Vou ficar fora disso. Meu braço ainda está em mau estado. Volto ao meu hotel, e fico por lá.

Voltou ao hotel mas, infelizmente (como é importante conhecer o lugar, na luta de ruas!), o mesmo ficava numa parte da cidade controlada pelos Guardas Civis. O lugar foi invadido e Thompson preso e atirado à prisão, sendo mantido oito dias numa cela tão cheia de gente que ninguém tinha lugar para deitar. Eram numerosos casos semelhantes. Muitos estrangeiros com linha política duvidosa estavam fugindo, tendo a polícia em seu encalço e sob o medo constante da denúncia. O pior estava ocorrendo aos italianos e alemães, que não possuíam passaporte e geralmente eram procurados pela polícia secreta de seus países. Se fossem presos, era possível que os deportassem para a França, o que poderia representar seu regresso à Itália ou Alemanha, onde só Deus sabe que horrores os esperavam. Uma ou duas mulheres estrangeiras regularizaram apressadamente sua posição, "casando-se' com espanhóis. Uma moça alemã que não tinha documentos escapou à policia apresentando-se diversos dias como amante de um homem. Lembro-me da expressão de vergonha e desamparo no rosto da pobre moça quando, acidentalmente, esbarrei nela, que vinha do quarto do homem. Está claro que não era amante dele, mas certamente achou que eu assim o pensava. Por todo o tempo tinha-se a sensação odiosa de que alguém, até então amigo, poderia denunciar-nos à polícia secreta. O longo pesadelo da luta, o ruído, a falta de comida e de sono, a mistura de tensão e tédio, sentado no telhado e imaginando se eu próprio levaria uma bala no minuto seguinte, ou obrigado a atirar em outrem, levara meu sistema nervoso à beira da explosão. Eu chegara ao ponto de, sempre que alguém batia uma porta, estender a mão para a pistola. Na manhã de sábado houve estampidos lá fora e todos gritaram: "Está começando outra vez!" Corri para a rua, onde verifiquei tratar-se de alguns Guardas de Assalto abrindo fogo contra um cão danado. Ninguém que esteve em Barcelona nessa época, ou meses depois, poderá esquecer a atmosfera horrível formada pelo medo, desconfiança, ódio, jornais censurados, cadeias entupidas de gente, filas imensas para comprar gêneros, e bandos armados a rondar por toda a parte.

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pág. 102 (Capítulo 9)

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Capa do livro Homenagem à Catalunha
Páginas: 193
Página atual: 102

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 12
Capítulo 3 19
Capítulo 4 32
Capítulo 5 39
Capítulo 6 51
Capítulo 7 64
Capítulo 8 70
Capítulo 9 81
Capítulo 10 105
Capítulo 11 130
Capítulo 12 142
Capítulo 13 157
Capítulo 14 173