Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 9: Capítulo 9

Página 103

Procurei, nas linhas acima, transmitir alguma ideia do que era estar em meio da luta em Barcelona, mas não acredito que tenha sido capaz de registrar grande parte da estranheza reinante naquela ocasião. Uma das coisas presas a meu espírito, quando relembro, é a sucessão de contatos casuais que fazia então, os olhares repentinos de não-combatentes, para quem tudo aquilo nada mais era que um estrondo destituído de significado. Lembro-me da mulher bem vestida que vi passeando pela Ramblas, com cesta de compras no braço e levando um cachorrinho branco, enquanto fuzis disparavam a uma ou duas ruas de distância. Não posso acreditar que ela fosse surda. E o homem que vi correndo pela Plaza de Cataluna, inteiramente deserta, sacudindo um lenço branco em cada mão. E o numeroso bloco de pessoas, todas trajadas em preto, que continuou tentando por toda uma hora atravessar a Plaza de Cataluna e não o conseguiu. Todas as vezes que seus componentes apareciam na calçada da esquina os metralhadores do P.S.U.C., no Hotel Colón, abriam fogo e obrigavam-nos a recuar não sei por que, pois era claríssimo que estavam desarmados. Mais tarde vim a crer que se tratava de um cortejo fúnebre. E o homenzinho que trabalhava como zelador do museu por cima do Poliorama, e que parecia encarar aquilo tudo como acontecimento social. Teve satisfação imensa em receber os ingleses em visita - os ingleses eram tão simpáticos, dizia ele. Esperava que pudéssemos todos voltar ali e vê-lo novamente, quando terminasse o barulho, e na verdade nós o fizemos. E o outro homenzinho, abrigando-se num portal, que inclinava a cabeça de modo bem humorado, em direção ao tiroteio infernal na Plaza de Cataluna e dizia (como a proclamar que a manhã estava belíssima): "Com que, então, temos mais um dezanove de julho!" E as pessoas na sapataria, que fabricavam minhas botas de marcha. Fui lá antes da luta, depois de terminada, e por pouquíssimos minutos, durante o curto armistício de 5 de maio. Era uma sapataria careira, seus artífices e pessoal eram da U.G.T. e podem ter sido membros do P.S.U.C. ou, de qualquer maneira, estavam politicamente no outro lado e sabiam que eu servia no P.O.U.M. Ainda assim, sua atitude era de completa indiferença.

- Que lástima, esse tipo de coisas, não é? E muito ruim para os negócios, também. Que pena não acabarem com isso! Como se não houvesse mais do que o suficiente na linha de frente! Etc. etc.

<< Página Anterior

pág. 103 (Capítulo 9)

Página Seguinte >>

Capa do livro Homenagem à Catalunha
Páginas: 193
Página atual: 103

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 12
Capítulo 3 19
Capítulo 4 32
Capítulo 5 39
Capítulo 6 51
Capítulo 7 64
Capítulo 8 70
Capítulo 9 81
Capítulo 10 105
Capítulo 11 130
Capítulo 12 142
Capítulo 13 157
Capítulo 14 173