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Capítulo 11: Capítulo 11

Página 139
Todas sabiam tomar a temperatura, outros saíam-se muito bem na colocação de ataduras, mas era quase só isso. O resultado era que os homens feridos demais para se defenderem viam-se muitas vezes vergonhosamente negligenciados. As enfermeiras deixavam um homem ficar constipado por toda uma semana, e raramente lavavam os que se encontravam fracos demais para fazê-lo sozinhos. Lembro-me de um pobre coitado com braço estraçalhado a contar que passara três semanas sem que lhe lavassem o rosto. Até as camas ficavam sem arrumar por dias seguidos. A comida, em todos os hospitais, era muito boa - boa demais, até. Mais ainda na Espanha do que em qualquer outro país a tradição parece ser a de empanturrar os doentes com comida pesada. Em Lerida as refeições eram uma coisa louca. O desjejum, por volta das seis da manhã, compunha-se de sopa, omelete, ensopado, pão, vinho branco e café, e o almoço era maior ainda - e isso numa época quando a maior parte da população civil se encontrava seriamente desnutrida. Os espanhóis parecem não conhecer uma dieta leve - e vinham sempre os mesmos pratos gordurosos, com tudo empapado em azeite.

Certa manhã foi anunciado que os homens em minha enfermaria deveriam ser mandados a Barcelona naquele dia. Consegui enviar um telegrama à minha mulher, dizendo-lhe que estava a caminho, e logo eles nos levaram de ônibus, tocando para a estação. Foi somente quando o trem já partia que o ordenança do hospital, viajando em nossa companhia, disse de modo casual que não íamos para Barcelona, mas Tarragona. Acho que o maquinista mudara de ideia. "Bem espanhol!" pensei. Mas também foi bem espanhol que eles concordassem em reter o trem enquanto eu enviava outro telegrama, e mais espanhol ainda o fato de que o mesmo jamais chegou à destinatária.

Puseram-nos em carros de terceira classe, com bancos de madeira, e muitos dos homens estavam bastante feridos e deixaram o leito pela primeira vez aquela manhã. Não tardou que, com o calor e os solavancos, metade estivesse em estado de colapso e diversos vomitassem no chão. O ordenança do hospital andava em meio aos corpos espalhados por toda a parte, levando uma grande bolsa de água, feita com pele de cabra, que espirrava nesta ou naquela boca. Era uma água repulsiva, e ainda me lembro de seu paladar. Chegamos a Tarragona quando o sol se punha. O leito ferroviário percorre a costa a pouca distância do mar, e enquanto nosso comboio chegava à estação partia de lá um trem de tropas, cheio de homens da Coluna Internacional, havendo um bolo de pessoas na plataforma a lhes acenar. Era um trem muito comprido, inteiramente lotado de homens, com canhões nas gôndolas e mais homens em torno às peças de artilharia.

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Capa do livro Homenagem à Catalunha
Páginas: 193
Página atual: 139

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 12
Capítulo 3 19
Capítulo 4 32
Capítulo 5 39
Capítulo 6 51
Capítulo 7 64
Capítulo 8 70
Capítulo 9 81
Capítulo 10 105
Capítulo 11 130
Capítulo 12 142
Capítulo 13 157
Capítulo 14 173