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Capítulo 11: Capítulo 11

Página 141
Na cirurgia onde os casos recém-chegados eram vistos, médicos com tesouras enormes abriam as couraças de gesso onde foram enfiados os homens com costelas partidas e outros ossos quebrados, nas estações de primeiros cuidados situadas perto da linha de combate, e pelo buraco destinado ao pescoço, naquelas carapaças grandes e mal feitas, como que se estendiam os rostos aflitos, sujos e com a barba de toda uma semana. O médico, homem bem apessoado e gestos rápidos, fez-me sentar numa cadeira, apanhou a ponta de minha língua com um pedaço de gaze, puxou-a até onde possível, enfiou um espelhinho de dentista pela minha garganta e ordenou que eu dissesse "Eh!". Depois de repetir o processo até que minha língua sangrasse e os olhos marejassem com lágrimas, declarou que uma corda vocal estava paralisada.

- E quando vou recuperar a voz? - indaguei.

- Sua voz? Ora, jamais ela voltará! - respondeu com tom dos mais animados.

Enganou-se, no entanto, como verifiquei mais tarde. Por uns dois meses não consegui falar mais alto do que num murmúrio, mas depois disso minha voz se tornou normal de modo bastante repentino, tendo havido uma "compensação" por parte da outra corda vocal. A dor em meu braço era devida ao fato de que a bala perfurara uma porção de nervos em minha nuca. Vinha em pontadas, como a nevralgia, e continuou a apresentar-se por mais ou menos um mês, especialmente à noite, de modo que eu não conseguia dormir muito. Os dedos da mão direita também se encontravam semiparalisados e ainda agora, cinco meses após, meu indicador continua entorpecido, efeito bem curioso para um ferimento no pescoço.

De certo modo meu ferimento era curiosidade e diversos médicos o examinaram, estalando bastante as línguas e dizendo "Que suerte! Que suerte!" Um deles, com ar de autoridade, declarou-me que a bala deixara de cortar a artéria por "perto de um milímetro". Não sei como pôde ver isso. Nenhum dos que conheci nessa ocasião - médicos, enfermeiros, praticantes ou colegas pacientes - deixou de me asseverar que um homem atingido por bala que lhe atravesse o pescoço, sobrevive, é a mais afortunada das criaturas. E eu não conseguia deixar de achar que seria sorte ainda maior o não ser atingido.

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pág. 141 (Capítulo 11)

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Capa do livro Homenagem à Catalunha
Páginas: 193
Página atual: 141

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 12
Capítulo 3 19
Capítulo 4 32
Capítulo 5 39
Capítulo 6 51
Capítulo 7 64
Capítulo 8 70
Capítulo 9 81
Capítulo 10 105
Capítulo 11 130
Capítulo 12 142
Capítulo 13 157
Capítulo 14 173