A escassez de gêneros alimentícios, que oscilara por toda a guerra, encontrava-se num de seus períodos ruins. Faltava o pão e as variedades mais baratas do artigo eram adulteradas com arroz; o pão recebido pelos soldados nos quartéis era uma coisa horrível, parecendo massa de vidraceiro. O leite e o açúcar mostravam-se muito escassos e o fumo quase inexistente, a não ser pelos cigarros contrabandeados e caros. Era aguda a falta de azeite, que os espanhóis usam para diversos fins. As filas de mulheres à espera para comprar azeite eram controladas por Guardas Civis a cavalo, que às vezes se divertiam fazendo os animais recuarem sobre a fila e procurando levá-los a pisá-las. Um dos aborrecimentos menores da ocasião era a falta de troco. A prata fora retirada, e nenhuma outra cunhagem de moedas surgira, de modo que não havia valor divisionário entre a moeda de dez cêntimos e a nota de duas e meia pesetas, ao mesmo tempo em que todas as notas abaixo de dez pesetas mostravam-se muito raras (15) . Para as pessoas mais pobres isso representava maior escassez de gêneros, e quem tivesse uma só nota de dez pesetas poderia ter de esperar horas a fio, numa fila, para poder chegar à mercearia e não comprar coisa alguma, pois o vendeiro não dispunha de troco.
Não é fácil dar ideia da atmosfera de pesadelo daquela época - a inquietação peculiar produzida por boatos sempre mudando, os jornais censurados e a presença constante de homens armados. Não é fácil porque, no momento, não existe na Inglaterra o ingrediente essencial para tal atmosfera. Na Inglaterra ainda não se encara com naturalidade a intolerância política, e existe a perseguição política de um modo mesquinho - se eu fosse mineiro, não gostaria que o patrão soubesse que eu era comunista - mas o "bom partidário", o gramofone-gangster da política continental europeia, constitui ainda uma raridade, e a ideia de "liquidar" ou "eliminar" quem discorde ainda não parece natural. Pois em Barcelona essa naturalidade era grande até demais.