A testa da coluna, ao lado da bandeira vermelha, ia Georges Kopp, o robusto comandante belga, montado num cavalo preto, e pouco adiante um jovem pertencente à cavalaria miliciana, que parecia um bando de salteadores, fazia piruetas de um para outro lado, subindo em carreira todos os lances mais altos do caminho e fazendo poses pitorescas. Os magníficos animais da cavalaria espanhola foram capturados em grandes números durante a revolução, e entregues à milícia que, como era natural, estava tratando de utilizá-los até à morte.
A estrada serpenteava entre terrenos agrestes e amarelados, intocados desde a colheita do ano anterior. A nossa frente encontrava-se a sierra baixa que se estende entre Alcubierre e Saragoça. Estávamos chegando à linha de frente e às suas bombas, metralhadoras e lama. No íntimo, eu tinha medo. Sabia que a linha estava calma naquele instante, mas, diversamente da maioria dos companheiros, tinha idade bastante para lembrar-me da Grande Guerra, embora não fosse velho a ponto de ter lutado nela. Para mim a guerra significava projéteis ensurdecedores, fragmentos de aço a espalhar-se para todos os lados. Acima de tudo, representava lama, piolhos, fome e frio. É curioso, mas eu receava muito mais o frio do que o inimigo. O pensamento estivera a atormentar-me desde Barcelona, e impedira-me o sono diversas vezes, fazendo-me imaginar o frio nas trincheiras, as vigílias nas madrugadas geladas, as longas horas de sentinela com um fuzil regelado, a lama desgraçadamente fria que entraria pelo cano das botas. Reconheço, também, que sentia certo tipo de horror ao olhar aqueles em meio aos quais estava marchando. Não é possível fazer ideia do aspeto de ralé que apresentávamos. Seguíamos à frente com muito menos coesão do que um rebanho de carneiros e, antes de havermos percorrido três quilômetros, a retaguarda da coluna já se perdera de vista. E metade dos chamados homens ali presentes era formada de meninos, mas meninos mesmo, com dezesseis anos de idade quando muito. Ainda assim, mostravam-se todos felizes e animados diante da possibilidade de chegarem finalmente à frente de luta. Ao nos aproximarmos da linha, os meninos em torno da bandeira vermelha começaram a dar gritos de "Visca P.O.U.M.!", e "Fascistas maricones!" e assim por diante, gritos que pretendiam ter um som guerreiro e ameaçador mas que, vindos daquelas gargantas infantis, pareciam tão indefesos quanto miados de gatinhos.