Homenagem à Catalunha - Cap. 2: Capítulo 2 Pág. 16 / 193

Era horrível que os defensores da República fossem aquele bando de meninos maltrapilhos, armados de fuzis gastos que não sabiam utilizar. Lembro-me que fiquei imaginando o que aconteceria se um aeroplano fascista passasse por ali - se o tripulante sequer se daria ao trabalho de mergulhar e brindar-nos com uma rajada de sua metralhadora. Até mesmo do ar ele certamente veria que não éramos soldados de verdade.

Chegados à sierra, entramos à direita e subimos um estreito caminho de mulas que fazia a volta pela encosta da montanha. Naquela parte da Espanha os morros são uma formação bizarra, em formato de ferraduras com topos achatados e lados muito íngremes que vão dar a barrancos imensos. Nas encostas mais altas nada cresce, a não ser arbustos, esmirradas urzes, com as pedras calcarias brancas aparecendo por toda a parte como um esqueleto. A linha de frente, naquele lugar, não era uma linha contínua de trincheiras, o que seria impossível em terreno tão acidentado, mas apenas uma cadeia de postos fortificados, sempre conhecidos como "posições", encarapitados no alto de cada elevação. Da distância podíamos ver nossa "posição" no centro da ferradura: era uma barricada irregular de sacos de areia, uma bandeira vermelha a tremular, a fumaça de fogueiras feitas ao ar livre - Um pouco mais perto, e dava para sentir uma catinga pavorosamente adocicada, que esteve residindo em minhas ventas por semanas a fio. Na fenda existente logo atrás da posição fora despejado todo o lixo de meses seguidos, e lá estava um amontoado de pedaços de pão, excrementos e latas enferrujadas.

A companhia que estávamos substituindo preparava seus pertences. Estivera três meses na linha de frente, e seus uniformes apresentavam bolos endurecidos de lama, as botas estavam aos pedaços, a maioria dos homens barbada. O capitão que comandava a posição, chamado Levinski mas conhecido de todos como Benjamin e judeu polonês de nascimento mas falando francês como se fosse sua língua materna, saiu do abrigo e veio nos receber. Era um rapaz de baixa estatura e seus vinte e cinco anos de idade, com cabelo negro e duro e um rosto pálido e animado que, a essa altura da guerra, estava sempre muito sujo. Algumas balas perdidas estalavam por cima de nós. A posição era um cercado semicircular com perto de cinquenta metros de largura, com um parapeito parcialmente formado de sacos de areia e montes de pedras calcárias. Havia trinta ou quarenta buracos pelo chão, como buracos de rato. Williams, seu cunhado espanhol e eu tratamos logo de apoderar-nos do buraco desocupado mais próximo, que nos pareceu habitável.





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