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Capítulo 13: Capítulo 13

Página 167
Aquela noite, descendo a Ramblas, passamos pelo Café Moka, que os Guardas Civis continuavam ocupando. Seguindo um impulso, entrei e conversei com dois deles, que estavam debruçados no balcão, com os fuzis pendurados nos ombros. Perguntei se sabiam quais os seus companheiros que estiveram ali durante a luta de maio. Não sabiam e, com a costumeira vagueza espanhola, ignoravam também como se poderia descobrir. Eu disse que meu amigo Jorge Kopp estava na prisão e talvez fosse levado a julgamento por alguma coisa relacionada à luta de maio, que os homens ali presentes saberiam que ele fizera parar a luta e salvara algumas vidas, que deviam apresentar-se a dar testemunho nesse sentido. Um dos homens com quem falei era sujeito estúpido e de aspecto bronco, que só balançava a cabeça porque não conseguia ouvir minha voz em meio ao ruído do tráfego. Mas o outro era criatura diferente. Disse que ouvira alguns companheiros falarem no ato de Kopp, e que este era um buen chico (um bom sujeito). Mas naquele momento eu sabia que aquilo era inútil. Se Kopp fosse submetido a julgamento, seria com provas falsas, como acontece em todos os julgamentos assim. Se foi fuzilado (e receio que tenha ocorrido isso) esse será seu epitáfio: o buen chico do pobre Guarda Civil, que fazia parte de um sistema sujo mas humano o bastante para conhecer um ato decente quando o podia ver.

Era uma existência extraordinária e aloucada a que vivíamos. A noite éramos criminosos, mas durante o dia nos tornávamos prósperos visitantes ingleses - seja lá como for, era assim que nos apresentávamos. Mesmo depois de dormir ao relento, barbear-se, tomar banho e engraxar os sapatos fazem milagres com a aparência da pessoa. O mais seguro naquela ocasião era parecer tão burgueses quanto possível. Frequentávamos o quarteirão residencial elegante da cidade, onde nossas fisionomias não eram conhecidas, íamos a restaurantes caros e nos mostrávamos muito ingleses com os garçons. Pela primeira vez em minha vida passei a escrever coisas nas paredes, e os corredores de diversos restaurantes elegantes receberam um "Visca P.O.U.M.!" em letras tão grandes quanto eu as pude escrever. Durante todo esse tempo, embora estivesse escondido em teoria, não conseguia sentir-me em perigo. Aquilo tudo parecia absurdo demais. Eu possuía a inalterável crença inglesa de que "eles" não podem prender a gente, a menos que tenhamos transgredido a lei. Trata-se de crença das mais nefastas durante um pogrom político. Havia ordem de prisão emitida contra McNair, e as possibilidades eram de que também estivéssemos na lista.

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Capa do livro Homenagem à Catalunha
Páginas: 193
Página atual: 167

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 12
Capítulo 3 19
Capítulo 4 32
Capítulo 5 39
Capítulo 6 51
Capítulo 7 64
Capítulo 8 70
Capítulo 9 81
Capítulo 10 105
Capítulo 11 130
Capítulo 12 142
Capítulo 13 157
Capítulo 14 173