Homenagem à Catalunha - Cap. 2: Capítulo 2 Pág. 17 / 193

Em alguma parte à nossa frente disparavam um fuzil de vez em quando, o que causava curiosos ecos nas encostas de pedras. Mal havíamos descarregado nossas mochilas e saíamos do abrigo quando se ouviu outro disparo e um dos meninos de nossa companhia voltou correndo do parapeito, com o rosto ensanguentado. Disparara seu fuzil e conseguira fazer explodir o ferrolho. Seu couro cabeludo estava esfrangalhado pelos fragmentos do cartucho explodido e aquela era nossa primeira baixa que, de modo característico, fora auto-infligida.

A tarde fizemos nossa primeira ronda de guarda e Benjamin nos mostrou a posição. Diante do parapeito estendia-se um sistema de trincheiras estreitas escavadas na rocha, com seteiras extremamente primitivas, feitas com pilhas de pedras de calcário. Havia doze postos de vigia, situados em pontos diversos na trincheira e por trás do parapeito interno. A frente da trincheira encontrava-se o arame farpado, e depois disso a encosta do morro descia até uma ravina aparentemente sem fundo. Do outro lado havia morros pelados, em alguns lugares apenas penhascos, tudo isso acinzentado e em hibernação, sem mostrar em ponto algum o menor sinal de vida, nem mesmo um passarinho. Olhei cuidadosamente por uma seteira, procurando a trincheira fascista.

- Onde está o inimigo?

Benjamín sacudiu a mão de modo expansivo e respondeu em inglês, em seu inglês horribilíssimo:

- Para lá.

- Mas onde?

Em conformidade com minhas noções sobre guerra de trincheiras, os fascistas estariam a uns cinquenta ou cem metros de distância. Mas nada conseguia ver, e parecia que suas trincheiras estavam muito bem escondidas. Foi então, com uma onda de desalento, que vi para onde Benjamin apontava: no outro morro à frente, além da ravina, a setecentos metros de distância pelo menos, via-se o esboço minúsculo de um parapeito e uma bandeira vermelha e amarela - a posição fascista. Fiquei tremendamente desapontado. Não estávamos perto deles coisa alguma! Naquela distância toda, nossos fuzis eram inteiramente inúteis. Mas nesse momento ouvimos um grito de animação. Dois fascistas, figurinhas cinzentas na distância, estavam escalando a encosta do morro à nossa frente. Benjamín passou a mão no fuzil do homem mais próximo, fez mira e puxou o gatilho. Click! O cartucho não detonou, e eu encarei isso como presságio muito mau.

As novas sentinelas mal acabavam de tomar seus postos na trincheira e deram inicio a uma fuzilaria terrível, disparando sem ter nada em mira. Eu podia ver os fascistas, pequeninos como formigas, esquivando-se de um para outro lado em seu parapeito, e às vezes um pontinho negro que era a cabeça de um deles parava por instante, expondo-se com toda a impudência.





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