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Capítulo 3: Capítulo 3

Página 20

Ali, nos morros ao redor de Saragoça, havia apenas a mistura do tédio e desconforto na guerra estacionária. A vida. transcorria tão destituída de acontecimentos quanto a de um caixeiro na cidade, e demonstrava regularidade quase idêntica. Sentinela, patrulhas, cavar o chão; cavoucar, patrulhas, sentinela. No topo de cada morro, fascistas ou legalistas, um punhado de homens andrajosos e sujos a tiritar de frio em torno da bandeira, procurando aquecer-se. E por toda a noite e o dia aquelas balas malucas e sem sentido, percorrendo trajetórias nos vales vazios e atingindo um corpo humano somente por probabilidade muito remota.

Muitas vezes lancei o olhar ao redor, examinando aquela paisagem de inverno e pensando na futilidade de tudo aquilo. Que guerra mais sem decisão! Em época anterior, por volta de outubro, houvera lutas selvagens pela posse daqueles morros e depois, por falta de homens e armas, principalmente artilharia, que tornavam impossível qualquer operação em larga escala, cada exército cavara para si um sistema de abrigos e se estabelecera nos topos de morros conquistados. A nossa direita encontrava-se pequeno posto adiantado, também do P .0. U. M., e no esporão à nossa esquerda, em plano mais baixo, uma posição do P .S . U . C. fazia frente a um esporão mais alto com diversos pontinhos fascistas em seu cimo. A chamada linha de frente ziguezagueava de um para outro lado, numa conformação que seria de todo ininteligível, não houvesse cada posição hasteado sua bandeira. As bandeiras do P.O.U.M. e P.S.U.C. eram vermelhas, as dos anarquistas rubro-negras. Via de regra os fascistas hasteavam a bandeira monarquista (vermelho, amarelo e vermelho), mas de vez em quando exibiam a bandeira da República (vermelho, amarelo e púrpura). O cenário era estupendo, para quem pudesse esquecer que em cada cimo de morro havia soldados e se achava, portanto, semeado com latas vazias e emplastrado com bosta. A nossa direita a sierra tomava o rumo sul-leste e abria caminho para o vale amplo e cheio de veias que se estendia até Huesca. Em meio àquela planície alguns cubos pequeninos estavam como dados atirados à mesa: era a cidade de Robres, que se achava em poder dos legalistas. Muitas vezes, de manhã, o vale se encontrava oculto por ondas de nuvens, das quais emergiam morros achatados e azuis, dando à paisagem grande semelhança a um negativo fotográfico.

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Capa do livro Homenagem à Catalunha
Páginas: 193
Página atual: 20

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 12
Capítulo 3 19
Capítulo 4 32
Capítulo 5 39
Capítulo 6 51
Capítulo 7 64
Capítulo 8 70
Capítulo 9 81
Capítulo 10 105
Capítulo 11 130
Capítulo 12 142
Capítulo 13 157
Capítulo 14 173