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Capítulo 6: Capítulo 6

Página 52
Naquele momento chegou um mensageiro para avisar que não fora possível encontrar aquele artigo, e na escuridão uma voz sugeriu, em tom lamentoso:

- Não há jeito de fazer os fascistas usarem essas braçadeiras, em vez de nós?

Tínhamos uma ou duas horas para esperar. O paiol por cima do estábulo de mulas estava tão arrebentado pelo fogo de artilharia que não podíamos andar ali sem luz. Metade do soalho fora destruída por uma granada, e por ali podia-se levar um tombo de seis metros até às pedras lá em baixo. Alguém encontrou uma picareta, arrancou uma prancha do chão, e em questão de minutos tínhamos um fogo aceso, e nossas roupas encharcadas começavam a soltar vapor. Um outro companheiro saiu-se com um baralho e passou por nós o boato - um desses boatos misteriosos, coisa endêmica na guerra - de que café quente com brandy estava a caminho. Descemos aquela escada que estava a ponto de cair sozinha, cheios de entusiasmo, e ficamos andando pela escuridão, para descobrir onde podia estar o tal café temperado. Bolas! Não havia café algum e, ao invés disso, eles nos chamavam, faziam-nos entrar em fila e depois disso Jorge e Benjamin partiam celeremente na escuridão, acompanhados por nós.

Ainda chovia e estava muito escuro, mas o vento diminuíra. A lama era alguma coisa de inenarrável. Os caminhos em meio à plantação de beterrabas não passavam de uma sucessão de altos e baixos, tão escorregadios quanto um pau de sebo e com poças enormes por toda a parte. Muito antes de chegarmos ao ponto onde deveríamos atravessar nosso próprio parapeito, já todos haviam caído diversas vezes e nossos fuzis estavam enlameados. No parapeito encontramos um pequeno grupo, que era nossa reserva, bem como o médico e uma fila de padiolas. Passamos pela abertura no parapeito e ingressamos em outra vala de irrigação. Cataplãsgugq! Outra vez na água até à cintura, com aquela lama fina e imunda entrando pelo cano das botinas. Na grama lá fora Jorge esperou até termos passado todos e depois disso, dobrado quase ao meio, começou a adiantar-se lentamente. O parapeito fascista estava a uns cento e cinqüenta metros, e nossa única possibilidade de chegar lá era andar sem fazer barulho.

Eu estava na frente, com Jorge e Benjamín. Dobrando o corpo, agachados para a frente mas com o rosto erguido, andamos naquela escuridão quase total com passo que se tornava mais lento a cada instante. A chuva leve batia em nossos rostos, e quando olhei para trás pude ver os homens que estavam mais próximos de mim, um bolo de silhuetas como cogumelos grandes e negros a deslizar vagarosamente para a frente.

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Capa do livro Homenagem à Catalunha
Páginas: 193
Página atual: 52

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 12
Capítulo 3 19
Capítulo 4 32
Capítulo 5 39
Capítulo 6 51
Capítulo 7 64
Capítulo 8 70
Capítulo 9 81
Capítulo 10 105
Capítulo 11 130
Capítulo 12 142
Capítulo 13 157
Capítulo 14 173