Homenagem à Catalunha - Cap. 6: Capítulo 6 Pág. 54 / 193

Jorge ajoelhou-se, procurou no bolso. Estava com nosso único alicate cortador de arame. Plic-plic! Os arames foram delicadamente postos de lado. Esperamos para que os companheiros lá atrás chegassem. Pareciam estar fazendo um barulho de todos os diabos. Devíamos estar a uns cinquenta metros do parapeito fascista, e tocamos à frente, encurvados. Uma passada furtiva, abaixando o pé tão de leve quanto um gato que se aproxima da toca de ratos; depois uma pausa para ouvir; e outro passo. Levantei a cabeça uma vez, e em absoluto silêncio Benjamin pos a mão atrás de meu pescoço e o puxou para baixo com violência. Eu sabia que o outro arame farpado ficava a menos de vinte metros do parapeito, e parecia-me inconcebível que trinta homens chegassem até lá sem serem ouvidos. Bastava a respiração arquejante para nos denunciar. Mas, seja lá como for, chegamos. O parapeito fascista estava à vista agora, um monte escuro e impreciso, bem alto sobre nós. Mais uma vez Jorge ajoelhou-se e procurou no bolso. Plic-plic! Não havia jeito de cortar o arame em silêncio.

Então era aquele o arame farpado de dentro! Passamos por ali rastejando de quatro e com rapidez bem maior. Se tivéssemos tempo para tomar posição agora, tudo estaria bem. Jorge e Benjamin arrastaram-se para a direita, mas os homens que vinham atrás e deveriam espalhar-se, tinham de formar uma fila única para passar pela pequena abertura no arame, e exatamente nesse instante houve um clarão e estampido no parapeito fascista. A sentinela finalmente nos ouvira. Jorge colocou-se de joelho e girou o braço como um jogador de boliche. Sua bomba explodiu em algum lugar no parapeito. No mesmo instante, muito mais depressa do que se teria achado possível, eclodiu o estrondo de dez ou vinte fuzis inimigos. Estavam à nossa espera, afinal de contas. Por momentos dava para ver cada saco de areia naquela luz sinistra. Os homens que se achavam distantes demais arremessavam as bombas, e algumas caíam antes do parapeito. De cada seteira pareciam jorrar jatos de fogo. Sempre é horrível fazerem fogo contra a gente na escuridão - pois cada clarão de disparo de fuzil parece estar apontando diretamente para nós - mas o pior eram as bombas. Não se pode conceber o horror causado por essas armas, a menos que se tenha visto uma delas explodir por perto, em plena escuridão. A luz do dia há somente o estrondo da explosão, mas na treva tem-se também o clarão vermelho e cegante. Eu me jogara ao chão logo aos primeiros disparos. Tudo isso ocorrera enquanto me achava deitado de lado, na lama viscosa, lutando selvagemente com o pino de uma bomba.





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