Homenagem à Catalunha - Cap. 6: Capítulo 6 Pág. 60 / 193

Era outro perigo, mas seriam precisos alguns minutos para nos enquadrar em seu fogo. Agora que tínhamos acabado a luta com aqueles malditos sacos de areia, a coisa apresentava até certo aspeto divertido; o ruído, a escuridão, os clarões a aproximar-se, os nossos companheiros respondendo ao fogo. Tinha-se até algum tempo para pensar, e eu me lembro que fiquei verificando se estava com medo, resolvendo naquela ocasião que isso não acontecia. Lá fora, onde provavelmente estivera sujeito a menos perigo, eu enjoara de tanto medo. De repente ouvimos outro grito a avisar que os fascistas se aproximavam. Dessa vez não havia qualquer dúvida, pois os clarões dos fuzis inimigos estavam muito mais próximos. Vi um deles que não podia estar a mais de vinte metros. Era claro que eles se adiantavam pela trincheira de comunicação, e a vinte metros encontravam-se dentro do alcance de nossas bombas. E ramos oito ou nove amontoados, e uma única bomba bem jogada nos reduziria a fanicos. Bob Smillie, com sangue escorrendo pelo rosto por causa de um ferimento leve, pôs-se de joelhos e arremessou uma bomba. Nós nos agachamos, esperando o estrondo. A espoleta ficou rubra enquanto atravessava o ar, mas a bomba não explodiu. (Pelo menos uma quarta parte daquelas bombas sempre falhava.) Eu não tinha mais bombas, exceto as fascistas que apanhara como recordação, e não sabia como funcionavam. Gritei para os outros, para saber se alguém tinha alguma bomba disponível. Douglas Moyle examinou os bolsos e passou-me uma. Atirei-a ao ar e mergulhei de cara no chão. Por um desses golpes de sorte que acontecem talvez uma vez por ano, eu conseguira lançar a bomba quase exatamente onde o fuzil disparara. Houve o estrondo e logo, instantaneamente, um clamor diabólico de gritos e gemidos. Havíamos acertado um deles, pelo menos, e não sei se o homem morreu, mas decerto ficara bastante ferido. Pobre coitado, pobre coitado! Senti certo arrependimento enquanto ouvia seus gritos. Mas no mesmo instante, à luz fraca dos clarões de fuzil, vi ou julguei ver uma figura de pé no lugar onde o fuzil disparara. Fiz mira com o meu e disparei. Outro grito, mas acho que era ainda o efeito da bomba. Outras foram atiradas, e os clarões de fuzil que vimos em seguida estavam muito distantes, a cem metros ou mais. Portanto nós os havíamos repelido, pelo menos temporariamente.

Todos começaram a amaldiçoar e perguntar por que demônios não nos mandavam reforço. Com uma submetralhadora, ou vinte homens de fuzis limpos, poderíamos sustentar aquele lugar contra todo um batalhão.





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